Aquele bom e velho aviso inicial de que este artigo de opinião contém spoilers de Uncharted, e, caso você ainda não tenha assistido, a melhor opção pode ser ler depois de assistir, senão, vamos nessa!
É, meus amigos amantes de cultura pop, finalmente, depois de doze anos, esse filme saiu do papel. Eu confesso que fui um dos que ficaram bem receosos em 2009 quando soube que os direitos do filme estavam com o controverso Avi Arad, o mesmo cara que tenta empurrar o Venom na goela de todo mundo.
Avi Arad é o responsável por pérolas como Demolidor: o homem sem medo (2003), Electra (2005), X-men: O confronto final (2006), Motoqueiro Fantasma: Espírito de Vingança (2011), A vigilante do amanhã (2017) e todos os filmes do teioso que não tem o dedo da Marvel Studios. Enfim, acho que vocês entenderam onde eu quero chegar.
A produção demorou tanto tempo para sair do papel que Mark Wahlberg que tinha sido cotado para o papel de Natan Drake acabou interpretando o Victor Sullivan. Depois de anos esperando esse filme, já desistindo dele, chegou aos cinemas Uncharted: Fora do Mapa.
Cabe de antemão avisar que se você espera alguma conexão da história com os jogos, vai se decepcionar bastante. A Sony foi corajosa (ou nem tanto) ao escolher pegar apenas os personagens e colocá-los em uma história completamente nova. Bem, “corajosa”, já que os fãs da franquia de games são bem preciosistas com a série e qualquer coisa que não seja dos jogos é automaticamente taxado como ruim (sem ao menos se permitir ver o filme), e nem tanto corajosa, já que seria um papel bem mais complexo interligar lacunas deixadas pelos jogos para costurar novas narrativas.
Se você se perguntou se esse quem vos escreve é fã da série de jogos, eu respondo que sim. Uncharted: Drake’s Fortune foi o motivo de eu ter comprado meu Playstation 3, e Uncharted 4: A Thief’s End (junto com God of War) o motivo de ter comprado um Playstation 4. Eu sempre gostei muito da narrativa dos jogos da série e, como fã dos filmes do Indiana Jones, vi em Drake um alívio para essa lacuna gamer que existe em meu coração fã dos filmes desse universo criado por George Lucas.
Uncharted: Fora do Mapa vale à pena?
Mas, deixando de enrolação, vocês já entenderam que aqui temos uma história completamente nova, mas, afinal, ele é bom? E eu, em minha percepção individual, já que esse é um OPINAnerd, digo um sonoro “sim”!
Eu realmente me diverti muito vendo essa película, no qual vemos um Drake novo, sem os maneirismos charmosos do personagem no jogo, mas a fagulha está ali. Por se tratar de uma história de origem voltada claramente ao público geral, temos aqui uma série de comodidades narrativas que levam aos encontros dos personagens, apesar disso, eu achei as conexões satisfatórias e não me tiraram da história.
Tom Rolland nos traz um Drake mais ingênuo e ainda sem se achar como indivíduo, que vive aplicando pequenos golpes enquanto trabalha como barman. Mark Wahlberg interpreta um Sully mais canastrão e mais fiel a si mesmo, o que pra mim fez sentido, já que sua postura só muda, mesmo nos jogos, com a responsabilidade de criar o Nathan. Nesse filme, essa construção parental é pouco explorada, porém a dinâmica entre os atores é boa e eu fico animado com o que pode vir nos próximos filmes.
Acredito que a maior mudança seja na personagem da Chloe, interpretada nesse filme pela Sophia Ali. Aqui temos na história uma Chloe mais insegura e um tanto quanto ingênua também, o que a distanciou bastante da impetuosa e astuta Chloe dos jogos, porém o longa trabalha uma história de origem para ela também, aproveitando que não conhecemos o passado dessa personagem nos games.
Uncharted tem uma ótima vilania
Agora os vilões, ah… Os vilões… E aqui começa a parte em que eu tenho que dar spoiler, pois Antonio Banderas interpreta Santiago Moncada, um personagem inédito que é herdeiro de uma família rica e está lá reivindicando um tesouro que supostamente seria de direito de sua família. E é aqui que, na minha opinião, o filme brilha.
Ao contrário da maioria das pessoas que eu ouvi falando sobre esse filme, amei o papel do Antonio Bandeiras, ele trouxe ao personagem um ar de vilão digno dos filmes clássicos do James Bond, que, na minha opinião, ele só é o antagonista do filme porque estamos seguindo a história do Nathan. Se parar para pensar, estamos seguindo a narrativa de um grupo de ladrões que quer roubar a fortuna desse rico excêntrico que só está tentando se provar para seu pai.
Santiago Moncada é um personagem complexo e interessante, e meu único desgosto é que ele poderia ter sido melhor explorado nesse filme, porém, a virada da assassina que passa o filme sendo subestimada matando o suposto vilão principal e tomando seu lugar é igualmente interessante.
E aqui vamos para a personagem vivida por Tati Gabrielle: Braddock, outra personagem inédita na história e representa uma mulher forte, ambiciosa e que sabe o momento certo de agir. Braddock já é apresentada como alguém em que não se deve confiar, mas, apesar dessa lição ser passada por Sullivan, ela é bem reforçada, dando indícios de que ela pode agir a qualquer momento, e é exatamente o que acontece.
Braddock, ao ter seus planos frustrados por Sully e Drake, acaba fazendo com que Moncada contrate Chloe sem o conhecimento de Braddock, que, ao se sentir ameaçada, acaba tomando a postura de comando. Entretanto, o filme deixa claro que esse era seu plano desde o início, ela só estava esperando o momento certo de agir.
Acredito que esse filme vá sofrer com a expectativas dos fãs, que sequer vão dar uma chance à película simplesmente por não se encaixar no contexto esperado pela mente purista do gamer que quer que tudo seja igual aos jogos. E, apesar do filme ter algumas inspirações em Uncharted 3: Drake’s Deception e Uncharted 4: A Thief’s End, elas são só isso, inspirações.
E para quem curte easter eggs, Uncharted: Fora do Mapa está cheio deles, desde os mais óbvios, como o anel do Sir Francis Drack com a inscrição do Sic Parvis Magna e o diário onde ele escreve as pistas e desenha o que vê, até algumas não tão óbvias, como tesouros em barris e o fato do Nathan permanecer molhado após cair no lago. Achei legal como eles dão destaque a essa coisa boba, mas que era o diferencial do primeiro jogo da franquia. Acredito que os easter eggs merecem uma postagem própria, então fica por aqui, por enquanto.
Pés no chão
Acho que um ponto que não vejo muitas pessoas abordando é a ausência do fator sobrenatural no filme. A trama tem uma pegada mais pé no chão, e acredito que inspirado pelo quarto jogo da franquia. Eu senti falta, mas não estragou o filme pra mim.
Enfim, com um elenco enxuto e um história contida e sem elementos sobrenaturais, Uncharted: Fora do Mapa é um filme interessante e divertido, não chega a ser nenhuma obra de arte cinematográfica que vai mudar a história do cinema, mas entretém e cumpre seu papel trazendo um longa com poucos furos e que não se prende as narrativas dos jogos, se propondo a contar aventuras inéditas. E, na minha opinião, vale muito a pena assistir.
E você? Já viu o filme? Curtiu, não curtiu? Comenta aí o que você achou.