Um dos momentos mais divertidos em Os Vingadores (2012) é quando Hulk (Mark Ruffalo) segura Loki (Tom Hiddleston) pela perna e o bate de um lado para o outro, como se ele não fosse nada além de um saco de pancada, logo após o Deus da Trapaça tentar dar uma carteirada invocando o quão divina é a sua existência. Depois da surra, o verdão tira ainda onda o chamando de “deus fraco”.
É curioso que desde aquela época, que teve no longa a prova do quão rentáveis poderiam ser os crossovers de super-heróis desde que fizessem um trabalho digno, o universo cinematográfico da Marvel (MCU) tenha mudado tanto. Inclusive, o protagonista da nova série, que acaba de estrear no Disney+, que passou de vilão para uma espécie de anti-herói, tendo seu fatal destino selado – literalmente – nas mãos de Thanos (Josh Brolin) em Vingadores: Guerra Infinita (2018).
Destino, aliás, é uma das grandes discussões que a Marvel consegue inserir dentro dessa (mais uma) bem-vinda salada de elementos que a consagrou como a principal produtora atual na indústria do entretenimento. A nossa história está pré-determinada por Deus (ou seja lá qual for sua crença) ou somos nós, os seres humanos, que construímos nossa história de acordo com decisões e enfrentamento do acaso?
Se Loki fosse um fã de Tom Cruise e Ken Watanabe certamente responderia que “o homem faz o que pode, até que seu destino seja revelado”, como em O Último Samurai (2003). Mas esse seria um pensamento do mais conformado ser humano, e se tem algo que o irmão do Thor não demonstra é conformidade. Até porque ele não é um ser humano. Loki é um deus, mas sabe que jamais será como seus pares e tenta usar isso como combustível de sua ambição.
Onde e como se situa a série Loki, do Disney+
O primeiro episódio de Loki, intitulado Glorioso Propósito, começa a partir do desvio temporal criado em Vingadores: Ultimato (2019), quando ele rouba o Tesseract e foge dos Vingadores. Ao ir parar na Mongólia, tomamos conhecimento da TVA, a Autoridade de Variância do Tempo (Time Variance Authority). O local possui ares de repartição pública, com funcionários dedicados a funções específicas (lembrando o começo de Paul Bettany em WandaVision) e elementos característicos de escritórios como estações de trabalho com mesas, papeladas, unifilas, elevadores, computadores, recepcionista, seguranças e outros. Tudo isso enquanto exerce a função de manter o multiverso em ordem. Franz Kafka ficaria orgulhoso.
Como boa especialista em ser sucinta e didática, a produção do Marvel Studios capricha ao dar aula sobre si mesma e explicar tudo isso que mencionei acima, explicando o multiverso e inserindo mais elementos na jogada como a Guerra Multiversal (um indício de que poderemos ter o mega evento Guerras Secretas?), o Nexus (nome dado ao fenômeno que causa a distorção na Linha Sagrada do Tempo, gerando assim um variante – Loki, nesse caso, é um variante) e os Guardiões do Tempo (trazendo ligações com Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania). Quando Kevin Feige disse que o MCU seria chacoalhado com essa série, ele realmente estava falando sério.
Obviamente, toda a penca exercida pela TVA deverá sofrer alterações ao longo dos episódios, pois não é possível que um cara conhecido como Deus da Trapaça seja feito de bobo o tempo todo.
É nesse ponto que entra em cena a figura de Moebius, personagem interpretado por Owen Wilson. Funcionário devoto à Linha Sagrada do Tempo e aos Guardiões do Tempo, ele está investigando uma série de assassinatos cometidos contra agentes da TVA, de autoria até então desconhecida. Desse modo, ele intervém e impede que Loki seja executado após o seu julgamento, para pedir ajuda ao filho de Odin na busca por esse criminoso. Isso oferece mais uma camada de profundidade ao seriado, que passa a introduzir um grande vilão para a trama.
Os efeitos estão, como já nos acostumamos a dizer, com “qualidade de cinema” e tanto a direção de Kate Herron (Sex Education) quanto o roteiro do criador Michael Waldron (Rick and Morty) estão bastante dinâmicos e precisos. Seria chover no molhado dizer que Hiddleston mantém o bom nível com o personagem, mas agora ele possui a agradável companhia de Owen Wilson em tela, o que agrega em muito na qualidade do casting.
Com uma produção digna de elogios, Loki tem tudo para manter (ou até elevar) a qualidade das produções Marvel dentro do Disney+, que até então conta com WandaVision e Falcão e o Soldado Invernal. Vamos conferindo, às quartas-feiras.
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