Levando em conta a preguiça com a qual são realizadas diversas produções nacionais, é louvável o esforço de Cidade Invisível e da Netflix em trazer para a 2ª temporada da série (clique aqui para assistir), que chegou neste dia 22 de março ao serviço de streaming, uma série de correções no percurso da história, que servem tanto como uma dose de injeção no interesse do público quanto como uma admissão de responsabilidade enquanto provedores de histórias culturais por parte de Carlos Saldanha e sua turma.
Digo isso pois a série chamou atenção no seu lançamento, lá em 2021, por mesclar elementos do folclore brasileiro dentro de um contexto social modernizado, mas sem conseguiu ir muito além disso, mesmo contando com a figura do galã Marco Pigossi como protagonista. Eram diálogos muito formais, efeitos pouco melhores do que os da novela Mutantes da Record e o pior de tudo: uma abordagem que invisibiliza povos indígenas, levando toda a intriga da história para um reduto não urbano no Rio de Janeiro.
Tretas à parte, veio a garantia de que novos episódios seriam produzidos. O caminho natural, na minha modesta opinião, seria a produção repetir o feijão com arroz que foram os capítulos iniciais e bola pra frente. Pois, ao contrário do que pensei – e mostrando bastante atenção aos feedbacks de quem assistiu ao programa – Cidade Invisível retornou à Netflix com diversas mudanças. E pra melhor.
A principal crítica, que é ao não reconhecimento dos povos originários dentro da concepção de personagens do folclore brasileiro para a trama, foi a grande reinvindicação a ser contemplada, chegando ao ponto de um dos diálogos promover a correção de índio para indígena para quando vamos nos referir aos povos do nosso país. De quebra, essa atenção também é importante para ligar o radar de quem tem o mínimo de bom senso para todo o mal que muitos povos sofrem, à luz da barbárie acentuada nos quatro últimos anos em que o país foi governado por alguém (e seus asseclas) que compara uma pessoa indígena a um animal que deve ser abatido.
A língua tucano também marca presença em alguns dos diálogos deste primeiro episódio da 2ª temporada, que leva a ambientação para o Norte do Brasil na busca pelo corpo do protagonista, Eric (Pigossi), ferido gravemente ao final da temporada anterior. Atrás dele estão sua filha Luna (Manu Dieguez) e a Cuca (Alessandra Negrini), e há uma interessante subtrama ali em Belém, para que o objetivo seja alcançado, como a necessidade de lidar com a bruxa Matinta.
Não posso afirmar se o resultado final destes novos episódios de Cidade Invisível será totalmente positivo, afinal, representatividade não é garantia de qualidade e assisti apenas o primeiro de um total de cinco. Mas ao promover a inclusão em sua história, mesmo que ao custo de críticas negativas para o programa, a Netflix e os produtores da série mostram que uma obra não precisa ser algo imutável.