A Rainha Pirata | Crítica

A Rainha Pirata contempla, com devida liberdade, a vida de Grace O’Malley, uma figura histórica e muito à frente do seu tempo

A história de A Rainha Pirata se passa na Irlanda do século XVI e, em primeira pessoa, conta a história de Grace O’Malley, a mais famosa pirata que a história conhece. De sangue nobre, vinda de uma das baronias irlandesas, Grace pertence a uma família de homens com tradição marinheira, mas por ser mulher seu destino está selado em terra firme. Contrariando tudo e todos, ainda adolescente ela decide que sua vida é o mar e se traveste de grumete (aprendiz de marinheiro), conseguindo assim embarcar em um dos navios de seu pai. E é então que se inicia sua história de aventuras no oceano.

Atualmente, ter mulheres empoderadas protagonizando filmes, séries ou quadrinhos, não é necessariamente um diferencial. Mas é justamente por contemplar uma figura histórica que A Rainha Pirata consegue se destacar, aguçando a curiosidade do leitor para buscar mais conhecimento sobre essa mulher irlandesa.

Infelizmente, as quase 100 páginas passam muito rápido, evidenciando que havia espaço para muito mais profundidade no roteiro de Gisela Pizzatto (que também cuidou da pintura). A consequência disso é que a narrativa anda sem mostrar muito da relação de Grace com sua família quando jovem, seus amores ao longo da vida e a relação com seus filhos. Obviamente, inserir conteúdo demandaria mais páginas, deixando o projeto muito mais difícil de ser publicado pelo custo.

Mas, de um modo geral, Gisela consegue sintetizar bem o que deseja transmitir para o leitor, fazendo uma afável analogia da vida de Grace com a teia da aranha, sem moralizar sua personalidade frente às suas atitudes, que estão à margem das leis comerciais e do patriarcado. Ainda no roteiro, há também algumas sacadas interessantes como o lenço jogado na lareira no encontro com a rainha Isabel I da Inglaterra. O desenho de Bruno Büll, além de caracterizar a protagonista de acordo com sua personalidade, respeita a arquitetura da época, mostrando castelos, navios e ilhas em cores bastante vivas com tinta aquarela.

Vale ressaltar que A Rainha Pirata data de 2013, sendo lançada inicialmente na Irlanda (onde foi premiada) e, só agora, conseguiu desembarcar em terras tupiniquins. Mérito para os criadores, que conseguiram viabilizar o projeto no país onde a história se origina, e uma vergonha para o Brasil, que não possui em sua cultura o hábito de valorizar seus autores e artistas como merecem, na maioria dos casos. O Studio Magenta cuidou da edição brasileira.

Formato 21×29,5 cm | 96 páginas | Papel Off Set LD 90g/m² | Capa cartonada