Nenhum Dia Sem Um Traço (Ernani Cousandier) | Crítica

Vencedor do Prêmio Angelo Agostini, Nenhum Dia Sem Um Traço vai muito além do acervo de Ernani Cousandier

Vivemos num mundo hostil para quem se dedica a um trabalho específico. Acumular funções seja em qual for o ramo de atuação não só é algo comum mas também necessário para mantermos as contas em dia. Imagine então as dificuldades ao se dedicar à arte.

Nesse cenário é sempre bom manter a calma e retomar alguns ensinamentos. Uma frase do pintor grego Apeles dizia “nenhum dia sem um traço”. A frase, como pode ser muito bem interpretada, se refere à dedicação contínua em torno daquilo que se pratica e reforçando assim a ideia de que o esforço faz alcançar a perícia. Esse ensinamento, lema de tantos outros ao longo da história, certamente se aplica ao livro homônimo de Ernani Cousandier.

Nenhum Dia Sem Um Traço reúne o trabalho dos últimos três anos até a publicação do livro (2014), sendo que rendeu a Ernani o Prêmio Angelo Agostini como Melhor Lançamento Independente do ano em questão. Gaúcho de Bento Golçalves, o quadrinista apresenta um trabalho de elogiável qualidade, tanto artística quanto na edição impressa (mais detalhes abaixo). O livro traz uma estrutura de almanaque, onde podemos destacar algumas histórias.

Primeiramente com Valter que, independente da função exercida, exibe uma cativante inocência aliada com heroísmo como em Amor em Chamas. Trata-se de um personagem incrível, daqueles que não se enjoa de acompanhar seja qual for a situação. Depois temos uma sequência de capítulos com a turma do Tchê & Tchó, onde podemos sentir e visitar a cultura da região sul do país inclusive na década de 1920 em No Vale das Antas, destacando detalhes como o cenário político da época e envolvendo os protagonistas com os bandoleiros, intendentes e soldados.

É aqui também que temos a estreia de um personagem incrível, chamado Menegatto. Trata-se de um charmoso vigarista que sobrevive de aplicar pequenos golpes. Apesar de habilidoso, Menegatto não consegue ser plenamente bem sucedido em seus golpes, fazendo com que essa rotina se torne um estilo de vida, como é possível conferir em Duros Tempos. Outro detalhe interessante é ver o personagem em ação desde cedo, aos 16 anos. A coisa deu tão certo em Nenhum Dia Sem Um Traço que Menegatto ganhou seu livro próprio, sub-intitulado A Pedra da Lua.

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É possível identificar também o aprimoramento nos traços do autor, como citado acima, e a gama de personagens carismáticos fazem desse um trabalho indispensável para os fãs da nona arte. Nenhum Dia Sem um Traço é, acima de tudo, inspirador. Independente da área que atuamos, melhorar a cada dia não só é uma forma de se aperfeiçoar, como também é um meio de tornar o percurso mais agradável, seja desenhando, cantando, pintando e, por que não, escrevendo.

Nenhum Dia Sem Um Traço

Ernani Cousandier 

Formato 23 x 30 cm, 144 páginas

Publicação independente

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