Se por um lado essa nova Guerras Secretas da Marvel pode render histórias protocolares com altas doses de referências a sagas clássicas como ocorreu com Desafio Infinito (leia o review), esse mega evento da Casa das Ideias também dá liberdade maior para os roteiristas criarem suas narrativas sem se preocuparem com o futuro de suas histórias, pois tratam-se de arcos sem continuidade após o encerramento. Essa falta de exigência parece ter feito bem a Guerra Civil, que se passa em algum lugar do Mundo Bélico.
A HQ estabelece uma nova hipótese para a saga Guerra Civil. Nela, a guerra entre Steve Rogers e Tony Stark (um contra a Lei de Registro, e o outro a favor) toma proporções ainda mais graves em relação aos seiscentos mortos da saga original, culminando dessa vez num atentado que ceifou a vida de 15 milhões de pessoas aproximadamente, incluindo aí uma porção de heróis como T’Challa, Tigresa e Vespa.
Um salto de seis anos no tempo é dado, onde descobrimos que a narradora inicial da história é Miriam Sharpe, mãe de um dos garotos mortos no primeiro atentado e um símbolo de inspiração para as decisões tomadas por Tony Stark no início do conflito.
Mas a situação agora é ainda mais surreal de um modo no qual apenas o Mundo Bélico de Guerras Secretas seria capaz de reproduzir: o país foi literalmente dividido em dois territórios, cada um ao modo de seus líderes. A parte leste (Ferro) é presidida por Stark, pautada pelo respeito à Lei de Registro onde qualquer ação sobre-humana não autorizada sofrerá a devida interferência governamental. Já no oeste (Azul) é o general Rogers quem dá as cartas, permitindo a liberdade de cada um na escolha de suas ações, e a devida punição caso essa autonomia seja usada para fins maldosos.
Há uma leve pegada cyberpunk nessa parte do Mundo Bélico de Guerras Secretas. Personagens bizarros como os Justiceiros (uma espécie de milícia de nome bem sugestivo em relação ao seu modus operandi), Wilson “Octopus” Fisk (isso mesmo), Homem-Aranha com as asas do Falcão, o Speedball envelhecido (um dos adolescentes imprudentes dos Novos Guerreiros que contribuíram para o atentado de Stamford) são exemplos disso. Cenários urbanos futuristas corroboram também para essa impressão (os desenhos são de Leinil Francis Yu).
O que torna essa Guerra Civil interessante é principalmente o fato da narrativa explorar de forma um tanto descompromissada o possível futuro caso a saga original não fosse resolvida pacificamente antes. Outro ponto importante é o maior equilíbrio entre cada lado desse embate. Em 2006 era fácil observarmos a tendência em caracterizar Tony Stark como antagonista (não necessariamente um vilão), mesmo com todas as justificativas apresentadas no texto de Mark Millar. Aqui esse equilíbrio é mais justo e muda o jogo em muitos aspectos, onde se usarmos uma boa dose de razão fica fácil condenar o Capitão América também. Méritos para o texto de Charles Soule, que acaba relacionando bem a história com outra grande saga do universo Marvel: Invasão Secreta.
O desfecho, no entanto, não é dos mais doces. As soluções rápidas de roteiro ocorrem, junto com uma questão nova apresentada: seria o super poder uma espécie de maldição?
A revista foi lançada no Brasil pela Panini em Guerras Secretas: Guerra Civil – Ed. 1 (Civil War 1-5, Revista especial, formato americano, 132 páginas, papel LWC, R$ 17,50)