Bom dia, Verônica | Crítica

Não é segredo que o público ama filmes e séries policiais. Aquelas investigações que se estendem por horas, apresentando situações angustiantes e absurdas. Existe um charme irresistível na ideia de acompanhar a solução de um mistério. ‘Bom dia, Verônica’, novo lançamento da DarkSide Books carrega em seu DNA os melhores elementos desse gênero. Um thriller poderoso que fisga o leitor e o faz mergulhar em um mar de podridão e perigos.

Com sua verdadeira identidade cercada por mistérios, Andrea Killmore constrói com maestria as nuances de sua obra. Com escrita ágil, porém detalhada, ela domina como poucos a arte da suspense policial. É preciso habilidade para prender o público em um cenário pouco convidativo ao primeiro olhar, mas que contém desdobramentos capazes de chocar até os mais experientes nesse mundo.

Seu grande mérito é transportar o leitor para uma realidade pouco conhecida, que a maioria tem contanto apenas pela tela da TV. Mas com uma naturalidade e riqueza de detalhes que sempre levantam a questão se tudo aquilo é real. Trocando em miúdos, é como se acompanhássemos um episódio de True Detective ou Hannibal (séries utilizadas como comparativo na campanha de marketing de ‘Bom dia, Verônica’). E essa é uma habilidade que apenas os grandes escritores possuem. Andrea Killmore parece um talento nato.

Na trama, acompanhamos a secretária da polícia Verônica Torres, que, na mesma semana, presencia de forma chocante o suicídio de uma jovem e recebe uma ligação anônima de uma mulher desesperada clamando por sua vida. Com sua habilidade e sua determinação, ela vê a oportunidade que sempre quis para mostrar sua competência investigativa e decide mergulhar sozinha nos dois casos. No entanto, essas investigações teoricamente simples se tornam verdadeiros redemoinhos e colocam Verônica diante do lado mais sombrio do homem, em que um mundo perverso e irreal precisa ser confrontado.

Verônica foge do padrão das grandes protagonistas, longe de ser uma exímia policial e muito menos uma heroína (pelo menos na concepção pura da palavra). Mas não foge da briga quando situações extremas surgem em sua vida, ainda que elas cobrem um alto preço. Com problemas no trabalho, no casamento, além de vários defeitos, ela é a típica mulher da vida real. Alguém com quem podemos nos identificar, que passa pelas situações rotineiras do dia-a-dia.

E essa é a sua força. Ninguém nessa história poderia aguentar toda a pressão de encarar vítimas de um crime hediondo, um chefe relapso e uma família carente por atenção na mesma semana. Em determinados momentos nem Verônica parece ser capaz. Mas é necessário, principalmente se houver uma mínima esperança de aplicar a justiça.

Nas ruas de São Paulo, onde as pessoas parecem mais invisíveis que o normal, Andrea Killmore vai montando sua história macabra que mistura a estranheza da ficção com a crueldade do mundo real. Tudo ali parece retirado de uma produção hollywoodiana, mas pode acontecer nesse exato momento em alguma cidade, até mesmo onde você mora.

Os monstros de ‘Bom dia, Verônica’ assumem as identidades mais comuns, se misturando na multidão e escondendo seus rastros. São os perigos da vida real, como golpistas que encontram suas vítimas em sites de relacionamentos ou serial killers que jogam do lado certo da lei durante o dia e despedaçam sonhos ao cair da noite.

Outro ponto de destaque do livro é a denúncia da violência contra a mulher, apresentada aqui de maneiras impactantes e revoltantes. É o uso do poder da ficção em prol de algo maior. Acredite, o que você vai encontrar nas páginas é mais real do que parece. Claro que algumas soluções para o desenrolar da trama acabam fugindo do ambiente proposto, mas um exercício de suspensão de descrença é sempre bem-vindo.

O trabalho da DarkSide Books nunca decepciona, o que garante um belo exemplar de livro na estante dos leitores. Capa dura, ilustrações minimalistas, um trabalho temático primoroso, especialmente quando alguns elementos da história são apresentados. Não é apenas o talento da escritora que se destaca.

Poucas pessoas conhecem a verdadeira identidade de Andrea Killmore, o que já desperta a curiosidade dos leitores. Mas ao final de ‘Bom dia, Verônica’ apenas uma pergunta realmente importa: qual será a próxima história que ela irá contar?