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Vera Cruz: Sonhos e Pesadelos, de Gabriel Billy (Avec Editora) | Crítica

Gabriel Billy usa o steampunk à brasileira para criar seu universo fantástico em Vera Cruz: Sonhos e Pesadelos, pela AVEC Editora

Vera Cruz: Sonhos e Pesadelos chega ao mercado literário nacional para preencher um espaço persistente em nossas prateleiras físicas e virtuais: o de histórias genuinamente brasileiras do ponto de vista cultural e que use ferramentas atrativas do insólito, como nesse caso, as engrenagens do steampunk e os encantos da magia.

Essa escassez não é total. Temos alguns exemplos de bons trabalhos nesse sentido por aqui, como a saga transmídia Brasiliana Steampunk, de Enéias Tavares, e também Guanabara Real: A Alcova da Morte, que o autor lançou juntamente com A. Z. Cordenonsi e Nikelen Witter pela AVEC Editora.

Porém, em Vera Cruz, o autor Gabriel Billy faz uma mistura um pouco diferente, colocando os elementos steampunk num mundo criado do zero, que têm como referência personagens e localidades da cultura brasileira, sejam elas históricas ou até mesmo mitológicas. Aliado às engrenagens, também há forte presença da magia nesse universo, assim como itens raros e poderosos como arcos, espadas e machados.

Imagine se a história do Brasil fosse um universo mágico, repleto de nações e povoado por figuras do folclore nacional, nossos inventores esquecidos, personalidades da família imperial, bandeirantes, revolucionários, artistas, e mais alguns nomes que você irá reconhecer (e outros de quem talvez nunca tenha ouvido falar). Imagine um mundo fervilhante, onde as incríveis tecnologias que nasceram no Brasil – aviões, dirigíveis, rádio – convivem com a mágica do axé e das pajelanças, e nossos mitos de raiz abrem as portas para a glória ou a danação desse mundo-Brasil chamado Vera Cruz. É nesse mundo que o ladrão Pedro Malazarte se lança à busca de Ivi Marã Ei, a Terra Sem Males, para encontrar o mais poderoso objeto que existe, a Borduna de Jurupari. A essa jornada repleta de desafios se unirão as figuras mais diversas, como a princesa quilombola Zaila, o índio amaldiçoado Urutau, o inventor frustrado Júlio César Ribeiro, a princesa destronada Isabel de Bragança, o curupira Oiti, e muitos outros personagens apaixonantes.

Temos então a presença de figuras conhecidas, seja por lendas ou não, como Chico Rei, princesa Isabel, Don Pedro, Domingos Jorge Velho etc. Não menos interessante, você também encontrará criaturas ao longo da história, algumas já conhecidas como Curupira e Boitatá, outras gigantescas e pouco mencionadas como os Gorjalas. Há algumas sacadas muito legais na proposta do autor, como colocar um ladrão no protagonismo que tem como maior proeza ter roubado o gorro de um saci. O item em questão lhe dá algumas habilidades mágicas que servirá de auxílio em sua jornada.

Senti falta de um pouco mais de descrição em algumas cenas, inclusive no final, pois o desfecho ficou muito corrido e se resolve em poucas páginas. Um pouco mais de caracteres também poderia ter ajudado a dar maior profundidade a alguns personagens. Parte disso pode ser sanado com eventuais continuações de Vera Cruz, já que o mundo apresentado possui muito terreno a ser explorado, além de poder repercutir os eventos desse primeiro volume, Sonhos e Pesadelos.

A edição da AVEC Editora está recheada com ilustrações e referências utilizadas pelo autor na hora de criar esse universo, juntamente com seus personagens e localidades. Vale mencionar também que no final do livro Gabriel Billy agradece a cada um que contribuiu para que o lançamento se viabilizasse através de uma campanha de financiamento coletivo no Catarse.

O saldo final de Vera Cruz é muito positivo. Precisamos de mais obras que, além de proporcionar uma viagem interessante pelos prazeres da fantasia, nos condicione a aprender e aceitar as peculiaridades do Brasil (seja ele factual ou mitológico) como algo de qualidade, digno de nossa atenção e compartilhamento de conteúdo.