Em Rio: Zona de Guerra, AVEC Editora traz obra escrita por Leo Lopes onde o Estado foi incapaz de manter a ordem
“Em um futuro próximo, as desigualdades sociais e econômicas chegaram a níveis tão alarmantes que o Estado não tem condições de manter a ordem e garantir a segurança pública. Todo o poder é concentrado nas mãos de megacorporações multinacionais que criam e impõem as leis por meio de suas milícias particulares, chamadas Polícias Corporativas. No Rio de Janeiro, a Fronteira, uma muralha intransponível que cerca a Barra da Tijuca e o Recreio dos Bandeirantes, protege os interesses das megacorporações, relegando os habitantes dos demais bairros a uma vida sem lei em um território dominado pelas gangues.Tudo pode acontecer quando o assassinato de uma prostituta no edifício de uma megacorporação leva um detetive particular a voltar para a Barra da Tijuca após anos de exílio no que todos se acostumaram chamar de Zona de Guerra.”
O que mais chama atenção em Rio: Zona de Guerra é mesmo sua ambientação. Leo Lopes destrincha muito bem as possibilidades distópicas nessa hipótese de Cidade Maravilhosa, tanto em relação à política e sociedade quanto aos movimentos cruéis da natureza (como determinadas áreas onde o mar avançou tanto que inundou a região). Provavelmente por ter morado na cidade, o autor consegue brincar muito bem com locais icônicos e relacioná-los com a trama principal. Um exemplo disso é o atentado ao Cristo Redentor.
Há um cuidado também em deixar a ambientação verossímil do ponto de vista logístico. Se há escassez de alimentos, é prudente que o protagonista coma uma maçã natural daquela região, e não outra coisa qualquer digna de outra região do país. São pequenos detalhes que ajudam a tornar Rio: Zona de Guerra interessante além da premissa, mostrando que o autor não subestima o leitor.
Algumas decisões estruturais da narrativas podem ser questionadas, no entanto. Quando Freitas enfrenta o Abutre, líder dos NoVe, uma das diversas gangues formadas na Zona de Guerra, Leo Lopes dedica um parágrafo apenas para explicar sobre outra gangue que fora exterminada em determinado prédio onde o protagonista se refugia. Além de quebrar o ritmo da ação, a explicação vem de modo gratuito pois a citada gangue não foi aproveitada em nenhum momento da trama.
O protagonista, Carlos Freitas, agrada bastante por sua personalidade forte. Ousadia, audácia investigativa e a habilidade de transitar entre os mundos opostos reforçam suas qualidades, aproximando sua figura a outros da cultura pop como Han Solo, clássico anti-herói da franquia Star Wars (referenciada em alguns momentos da obra). Há alguns traços de irreverência que também agregam valor ao personagem, como sua preocupação pontual com o próprio peso ou seu amor a um modelo retrô de pistola, a qual chama chama carinhosamente de “Princesa”.
O romance desenvolvido entre ele e Vivian tem alguns aspectos legais no início, quando as coisas estão mais provocativas e insinuantes. O desenvolvimento desse relacionamento, no entanto, não foi bem conduzido, faltando assim mais profundidade para a moça. Renata, outra personagem feminina de destaque em Rio: Zona de Guerra, se faz mais interessante.
Rio: Zona de Guerra é uma opção válida de literatura nacional ambientada no Brasil. Sua história entretém o suficiente para que o leitor curta a trajetória de Freitas, ao mesmo tempo que há espaço para mais conteúdo nesse universo distópico. As comparações com com o mundo real, especialmente ao estado do Rio de Janeiro, que encontra-se com sérios problemas de ordem social, política e financeira, são quase automáticas. Mas não se engane: essa publicação da AVEC vai muito além.
Autor: Leo Lopes
ISBN: 978-85-67901-00-8
Editora: AVEC Editora
Formato: 14×21 cm
Tipo de capa: Supremo Cartão 250g
Papel: Lux Cream 70g
Quantidade de páginas: 208
Ilustração de capa: Diego Cunha
Projeto gráfico e diagramação: Roberto Hasselmann
Revisão: Miriam Machado
Onde encontrar: AVEC Store