Crítica | Innocent – Vol. 1

Nunca fui um leitor assíduo de mangás, tendo apenas um conhecimento bem raso, afinal, minha preferência estão nos quadrinhos norte-americanos e europeus. Mas, no últimos tempos, estou cada vez mais observando outras produções do mercado de quadrinhos mundiais. E foi com essa percepção, que notei que minha erudição dos quadrinhos orientais é bem mínima, conhecendo apenas alguns clássicos como Lobo Solitário e Akira, então, graças a nossa parceira, Reboot Comics, encontrei o primeiro volume que me chamou bastante atenção, uma HQ (sim amigos, manga é HQ) baseada no período pré-revolução francesa, INNOCENT.

Na trama, acompanhamos o jovem Charles-Henri Sanson, um herdeiro do clã Sanson, uma família cheia de prestigio na alta sociedade francesa, responsável por uma tarefa, que o acompanha a várias gerações, uma tarefa sórdida e nefasta, os carrascos da França. No caso, Charles-Henri, irá suceder o pai no cargo de “Monsieur de Paris”, um cargo dado pelo próprio Rei. Mas Charles quer isso?

“Afinal, você é filho do Monsieur de Paris…o Líder de todos os carrascos reais da França”

Cheio de pavor por seu futuro e tentando entender a carga emocional que este título lhe pesa nos ombros, o Jovem Charles busca força para desafiar o pai, Charles-Jean Baptiste Sanson, um homem com uma serenidade assustadora e a busca constante para que o filho entenda seu lugar na sociedade e sua avó paterna Anne-Marthe Sanson, a matrona da família Sanson, cheia de orgulho do passado de sua família, que exige dos futuros executores da família Sanson, total empenho e orgulho na função que lhes foi cabida pelo destino e pelo Rei.

Mas a aceitação de tal título, é carregado de pavor pelas pessoas em volta, pois a família traz consigo todo o respeito e o poderio que sua função porta, mas junto vem o medo de todos, afinal, é a morte quem anda ao lado dos Sansons. Como não temer a morte personificada em forma de lamina fria? E isso deixa o jovem Charles perdido em seu papel, em como se aceitar.

De criação católica, o 5° mandamento, “Não matarás” persegue o jovem Henri, deixando que a visão de sua família e dele próprio seja uma narrativa visual de demônios, pois sua mente lhe tortura, mental e física, essa última, perpetrada por seu próprio pai, que insiste que as dores da carne lhe tragam a realidade dos fatos.

Falando em tortura, morte, Innocent é repleto de notas sobre pontos específicos de tortura, decapitação, como proceder para infligir dor e como essa dor atinge um ponto específico do corpo humano, trazendo ainda mais realidade a narrativa do quadrinho.

A descoberta de si, e de quem Charles deseja ser, permeia todo o mangá, mostrando inclusive momentos de grande eloquência do personagem para defender a vida de um inocente leão, e a descoberta de um acalanto no amor, que não tem espaço em uma vida cheia de morte que espera Charles-Henri Sanson, seu nome é sua sina e sua herança.

A arte é espetacular, desde a sua capa. Uma narrativa visual impressionante e única, o brilho e o temor nos olhos dos personagens é muito bem apresentado, sendo um dos pontos altos da história. Estamos muito acostumando com a narrativa de quadrinhos americanos, e esquecemos dos grandes mestres da arte sequencial oriental, que dão um show em suas páginas e esse espetáculo visual, é muito bem visto na primeira edição de INNOCENT.

Algumas puladas de tempo na narrativa, acabam por tirar você bruscamente da imersão, pois eles dão saltos muito desconexos e desnecessários para a construção do storytelling, o que prejudica e muito a fluidez da narrativa de texto, um ponto negativo em minha opinião.

O mangá termina em uma quebra do personagem, o momento em que ele percebe que não pode fugir mais do destino, que precisa abraça-lo de forma dolorosa e próxima, mas ele conseguirá faze-lo com maestria e desapego emocional?

Baseado no livro de Masakatsu Adachi, O Carrasco Sanson, que narra as passagens históricas de Charles-Henri Sanson, adaptado por Schin`Ichi Sakamoto, o manga foi finalizado em 9 volumes no Japão e com um continuação chamada INNOCENT ROUGE, o volume 1 de INNOCENT te apresenta bem os personagens e o período histórico em que eles vivem, com uma arte belíssima e primorosa, e um desejo de darmos continuidade desse relato denso e pesado sobre um dos momentos de grande importância histórica.

Vocês podem adquirir INNOCENT vol. 01 com nossos parceiros da Reboot Comics.