Neil Gaiman nasceu em 10 de novembro de 1960, em Porchester, Hampshire. Ele estudou em diversos colégios da Igreja da Inglaterra, e durante esses anos de formação, Gaiman foi um leitor ávido, devorando obras como as de Tolkien, C.S Lewis, Lord Dunsany, Ursula K. Leguin, H.P. Lovecraft e Gene Wolfe. Aos 15 anos, ele já sabia o que queria fazer da vida: Neil queria escrever quadrinhos americanos. Apesar de tentarem desaconselhá-lo, ele ignorou essas vozes, para a nossa sorte.
“Eu era aquele moleque com o livro.”
No começo dos anos de 1980, Neil começou como jornalista e crítico, o que lhe trouxe diversos contatos que seriam importantes para a sua futura carreira como quadrinista, tais como Alan Moore (que na época começava a despontar) e Clive Barker. Na época, ele chegou a entrevistar celebridades incríveis, como Patrick Macnee, Terry Jones (Monty Python), Arthur C. Clarke e Douglas Adams. Desde cedo, ele estabeleceu boas conexões, e sabemos que boa parte das pessoas importantes de quadrinhos ou literatura, até mesmo alguns da música, conhecem e são amigos de Neil Gaiman. Seu primeiro livro foi escrito em 1984 sobre a banda Duran Duran, chamado Duran Duran: The First Four Years of The Fab Five. Mas isso não quer dizer que ele não tivesse sido publicado antes, tendo diversos contos em várias coletâneas ou revistas, e, posteriormente, foram reunidos em livros.
Antes de escrever sua obra mais famosa, Sandman, Neil Gaiman lançou vários outros quadrinhos, começando em 1986 para uma revista semanal de ficção científica, depois, em 1987, com Dave McKean, ele publicou Violent Cases, que abriu caminho para uma série colaborativa com a DC Comics, Orquídea Negra, e também para trabalhar com a empresa. A princípio, Neil Gaiman estava animado em trabalhar com personagens conhecidos da DC, mas encontrou diversas resistências, pois sempre via os seus diálogos sendo reescritos, tendo que aceitar o destino desse ou daquele vilão ou herói. Então, depois de muito insistir, conseguiu criar o seu próprio universo, com uma continuidade só dele, respeitando os personagens já existentes, e, assim, renasceu (pois o personagem já existia) Sandman.
A série favorita de todos nós durou 8 anos, e foi lançada em 75 volumes + 1 especial, de 1988 a 1996, tornando-se um fenômeno, atraindo diversos tipos de público, incluindo o feminino, que já sofria com o machismo no mundo nerd. O universo de Sandman não parou nessas publicações, é claro. Neil Gaiman sempre trabalhou em colaboração com diversos artistas, e assim continuou criando spin offs e histórias paralelas sobre o universo do Sonhar. Sandman, para quem não sabe, é uma das criações mais importantes do mundo das HQs; por exemplo, foi o primeiro quadrinho a ganhar um prêmio literário (World Fantasy Award), a única HQ que entrou para a lista de 100 melhores best-sellers literários do The New York Times, além de ser o responsável pela transição de HQs para Graphic Novels.
“O rei dos sonhos aprende que é preciso mudar ou morrer, então toma uma decisão.”
– Neil Gaiman
Agora que você já sabe uma pontinha da história de um dos melhores autores de ficção do mundo, segue uma lista com 5 de suas obras que são maravilhosas, mas sempre esquecidas no rolê:
1. Odd e os gigantes de gelo
Tudo se passa em um vilarejo da antiga Noruega. Com um nome nada comum, o menino Odd carregava ‘uma perna boa, uma perna bem ruim e uma bengala de madeira’. Odd perdeu o pai após uma incursão marítima, enquanto cuidava dos valiosos pôneis. Poucas semanas depois, ele próprio sofreu um acidente ao tentar pôr em prática as mesmas habilidades que eram exercidas por seu pai. O estranhamento natural que as pessoas tinham sobre ele e a forma inesperada como lidava com a morte do pai incomodavam os habitantes do vilarejo. Para fugir do clima hostil que o rodeava, Odd decidiu se embrenhar na floresta, chegando à cabana de lenhador construída por seu pai. Enquanto se refugiava, o menino se deparou com uma raposa, que arranhava as paredes da cabana e o espreitava do lado de fora, com uma expressão calculista e astuta. A raposa parecia ter um plano e dava sinais de que queria que Odd a acompanhasse. Sem desdenhar de uma oportunidade única como essa o menino a seguiu determinado. Para sua surpresa, no meio do caminho, encontraria ainda uma águia e um urso. Eram três criaturas com a mais curiosa das histórias para contar, e uma missão muito perigosa para um menino com o estado limitado em que ele se encontrava.
Spoiler para aumentar a curiosidade: os bichos eram Odin, Thor e Loki presos na forma animal.
2. Criaturas da noite
Criaturas da noite é mais um belo trabalho de Neil Gaiman no universo dos quadrinhos que presenteia o leitor com duas histórias curtas que trazem gatos e corujas como animais enigmáticos e ares de sobrenatural. Além do roteiro bem trabalhado, encontramos traços belíssimos que fazem de Criaturas da noite uma excelente leitura com ares sombrios, característicos da obra do autor.
Possui uma das melhores histórias de gatos que eu já li, particularmente. Não somente é sombria, como traz toda a mitologia felina sobre a sensibilidade desses seres e sua lealdade.
3. 1602
Ambientada na Europa e na América do século XVII, personagens como X-Men, Quarteto Fantástico, Dr. Estranho e Nick Fury, envolvem-se numa intrincada trama de suspense, traições e magia, interagindo com personalidades da época e mudando o curso da própria História! Essa é uma Inglaterra elisabetana, e traz diversos marcos históricos que são explorados pelos personagens que já conhecemos, mas repaginados, como é a especialidade do autor. A arte de Andy Kubert materializa grandes cenários europeus e do Novo Mundo, sem contar com a brilhante parceria do colorista Richard Isanove, que consolidou uma arte final de extrema importância para uma melhor sequência narrativa.
4. Orquídea Negra
Como falado anteriormente, é uma personagem que havia sido totalmente esquecida pela DC Comics e que voltou a ganhar vida nas mãos de Neil Gaiman e Dave McKean. Uma das propostas dessa repaginada era fugir dos esterótipos criados para super-heróis e vilões. A história é mais intimista, a personagem não é hipersexualizada, e pode parecer um pouco arrastada para quem não está acostumado com uma narrativa mais madura e reflexiva.
A história começa quando uma nova Orquídea Negra desperta, com memórias vagas, como um sonho perdido. Então, ela decide partir em uma jornada para descobrir quem é, e acaba se encontrando com pessoas que fazem parte de um passado muito familiar, mas que não é seu, e com os estranhos sujeitos que vivem a fantasia dos super-heróis e vilões.
5. O livro do cemitério
O que aconteceria se uma criança fosse criada em um cemitério pelos mortos?
Essa é a premissa do livro, totalmente inspirada em O livro da selva (que, para quem não reconhece, é a história que dá origem ao Mogli ou ao Tarzan), mas de uma forma mais sombria. A narrativa fala sobre o pequeno Ninguém Owen, cujos pais são brutalmente assassinados por um homem chamado Jack, sendo que a criança escapa por acaso e vai acabar no cemitério, onde é adotado por um casal de fantasmas elisabetanos e se torna o protegido de um misterioso ser chamado Silas. Acompanhamos a vida do rapaz, da infância até a adolescência, quando, aos 15 anos, ele decide sair do cemitério e descobrir mais sobre o mundo dos vivos e volta a ser perseguido pelo assassino de seus pais, que busca terminar o serviço.
Atualmente, estão lançando esse livro na versão Graphic Novel, caso prefiram ler no formato quadrinho.
Espero que gostem das indicações, e mandem os parabéns de Neil pelo Twitter. Ele é bem ativo por lá! Acha que faltou alguma obra ou algum fato sobre a vida desse importante autor? Manda pra gente!