O lançamento de Cyberpunk 2077 com certeza foi um dos mais aguardados e mais decepcionantes da história dos videogames. Depois do sucesso de The Witcher 3, fãs da CD Projekt Red aguardaram 8 anos pelo novo jogo da empresa, prometendo algo bem diferente das aventuras do bruxo Geralt.
Após vários adiamentos e um lançamento conturbado cheio de bugs e problemas de performance, ficou claro que o jogo não estava pronto. A Sony também retirou o jogo da PlayStation Store, e ainda ofereceu reembolso para os compradores. Mas o que aconteceu? O jornalista Jason Schreier, conhecido por revelar podres da indústria dos videogames, revelou alguns detalhes sobre a produção do jogo em uma coluna na Bloomberg (você pode ler a matéria original aqui em inglês).
Schreier entrevistou mais de 20 empregados e ex-empregados da empresa, a maioria anônima por medo de serem demitidos. Os desenvolvedores informam que sabiam de todas as falhas do jogo, só não tiveram tempo para consertá-los. Para um deles, um dos principais problemas é que a empresa teve que criar o jogo do zero, desenvolvendo uma nova engine enquanto produziam o jogo, em suas palavras “Era como pilotar um trem enquanto os trilhos eram construídos ao mesmo tempo“. Há também falas de executivos da CD Projekt Red dizendo que eles iam “descobrindo com o tempo” como produzir um jogo com um escopo tão grande.
Uma das revelações mais bombásticas é que o jogo foi divulgado em 2012, mas só começou a ser realmente produzido no final de 2016. Além disso, o maravilhoso vídeo de gameplay mostrado na E3 de 2018 era todo falso. Somente uma demo criada para objetivos de marketing. A equipe do jogo informou que essa demo foi uma perda de tempo, pois eles poderiam estar trabalhando no desenvolvimento do jogo de verdade nesse período.
O conhecido crunch já comum na indústria de jogos AAA também aconteceu durante a produção de Cyberpunk 2077. Um ex-funcionário disse que às vezes trabalhava até 13 horas por dia, 5 vezes por semana e acabou pedindo demissão depois que se casou. Ele também informou que alguns colegas perderam suas famílias por causa disso. Esse modelo de trabalho não era obrigatório, mas era algo meio que socialmente não dito e aceito, como geralmente acontece.
Outros problemas apontados foram falhas de comunicação entre funcionários da Polônia e dos Estados Unidos por causa de barreiras de linguagem e também os problemas do trabalho remoto por causa da pandemia do coronavírus. Funcionários passaram a ficar mais distantes e não tinham como testar o jogo de forma precisa com os equipamentos que tinham em casa.
O lançamento de Cyberpunk 2077 é só mais um caso dentre os vários problemas que a indústria de jogos AAA lida atualmente. Com as quedas das ações da CD Projekt Red, poderia ser um aviso de que esse modelo de negócio não se sustenta mais. Mas o jogo se pagou e agora segue em uma jornada de redenção, prometendo fixes e atualizações para 2021.
Além disso, outros jogos que também submeteram seus desenvolvedores a cargas de trabalho excessivas, como The Last of Us Part 2, foram sucesso de crítica e público em 2020. Dessa forma, a lição que fica é que talvez o crime compense.