Em Vice, Adam McKay entrega uma obra que, apesar de divertida, mostra como atuam longe dos holofotes figuras de grande influência na vida das pessoas
A política no Brasil nos últimos anos nos mostrou que o vice-presidente não é somente um cargo decorativo, ele tem poder e pode mudar o rumo de uma nação. E é mais ou menos essa mensagem que Adam Mckay quer passar com Vice, seu novo filme indicado ao Oscar. Confira nossa crítica sem spoilers.
Vice conta a história de Dick Cheney (Christian Bale), vice-presidente dos Estados Unidos durante o governo de George W. Bush (Sam Rockwell). O longa mostra tanto a vida pessoal do político juntamente com sua esposa Lynne (Amy Adams), como também os malabarismos jurídicos e políticos que o tornaram o vice-presidente mais poderoso do mundo.
Se você assistiu A Grande Jogada e curtiu aquele tipo de narrativa, você vai gostar de Vice. Adam Mckay usa aqui as mesmas técnicas aplicadas naquele longa. Uma edição meio “youtube” com cortes rápidos, inserções de imagens reais e uma narrativa em off de Jesse Plemons (Breaking Bad). A fórmula dele funciona na maior parte do tempo e se resume a pegar um assunto complicado ou chato e colocar uma edição engraçadinha e rápida para tornar aquilo mais interessante.
O problema é que a história se divide entre a vida pessoal e política de Dick, em certos momentos tornando o filme mais intimista e até tentando humanizar um personagem tão maligno. Essa dualidade acaba deixando os objetivos do filme um pouco confusos, pois é muito difícil você se importar coma vida pessoal de uma pessoa que você está aprendendo odiar a cada minuto que passa. As partes mais interessantes do longa são quando ele foca na política, mas mesmo nessas cenas é um pouco difícil acompanhar por causa de todo o “politiquês”. Mckay se esforça pra deixar tudo mais palatável mas nem sempre dá certo.
Um dos pontos altos do filme é com certeza as atuações. Como já é de praxe de Christian Bale, o ator engordou para o papel e consegue entregar uma ótima atuação mesmo com quilos de maquiagem na cara, sendo com certeza um dos favoritos para o Oscar. Outro destaque é o ótimo Sam Rockwell como Bush filho, é incrível como podemos ver o ex-presidente perfeitamente nas feições do ator. Amy Adams, também indicada ao Oscar, traz uma personagem forte e que acaba sendo ainda mais maquiavélica que o personagem principal em certos momentos.
É difícil ver o filme e não fazer conexões com a política no Brasil. Uma das cenas bem longas do filme é mostrando como os republicanos conservadores dos Estados Unidos fazem para manipular a população através de Fake News e Think Tanks. Esse tipo de propaganda é extremamente importante principalmente em períodos de guerra quando você precisa do apoio da população para invadir um país sem motivo.
Vice pode ter um roteiro e edição divertidos, mas nos mostra uma realidade cruel: as pessoas comuns estão na mão desses grandes poderosos. Pessoas que podem fazer de tudo para lucrar e subir ao poder. Além disso, mostra o poder que um vice-presidente pode ter enquanto controla um país sem os holofotes da mídia. Acredito que o filme poderia ter focado mais na vida política do que pessoal do personagem, mas o que Mckay entrega de forma sarcástica é o suficiente para passar essas mensagens de uma forma mais palatável.