“Ted Bundy: A irresistível face do mal” traz a história do famoso serial killer de uma forma um pouco diferente do habitual: se foca no próprio Ted Bundy e não em seus crimes, ao contrário da maior parte das outras publicações do gênero.
No filme, começamos a história com Liz, a namorada de Ted, conhecendo-o. Charmoso, inteligente, bonito e carismático, o rapaz e a moça logo passam a praticamente morar juntos, em um romance intenso, até que Ted é acusado e preso e esse mundo perfeito começa a desmoronar quando Liz não sabe mais em quem confiar: em Ted ou na polícia/mídia?
Theodore Robert Cowell, mais conhecido pela alcunha de Ted Bundy, foi um dos mais temíveis assassinos dos E.U.A na década de 70, sendo acusado de ter matado, de maneiras extremamente sádicas, pelo menos 30 mulheres (e estima-se que esse número possa ter sido muito maior, mas não há provas). Ele foi condenado à cadeira elétrica, no estado da Flórida, e executado em 1989, trinta anos atrás.
E, sinto dizer, nada disso é spoiler.
“Ted Bundy: A irresistível face do mal” traz uma abordagem com dois resultados possíveis. O primeiro é caso você não esteja familiarizado com a história de Bundy, então, provavelmente, vai assistir e enxergar um enredo de suspense, pescando as sutis dicas que a história vai te entregando durante as quase duas horas de filme. Nesse viés, aparentemente há uma romantização da vida do assassino, excluindo as atrocidades cometidas por ele e deixando dúvidas sobre a sua inocência, mas, na realidade, o que acontece é que o foco dos crimes é retirado da história e colocado no personagem principal, tornando-o misterioso, quase irresistível e aparentemente inofensivo.
O segundo resultado possível é pelos olhos de quem já conhece a história do serial killer. Nesse caso, a abordagem que o filme escolheu pode não ser eficiente, pois escolheu uma pegada mais humanizada e, como já citado, a aparência de romantização fica mais evidente. Você, como espectador, fica espantado, esperando o monstro sair a qualquer momento, que Ted vá revelar que é cruel e doentio, mas essa espera é em vão. Desenvolve-se quase uma ode ao personagem, um outro lado da moeda. A narrativa nos traz para uma realidade cotidiana, representando Ted Bundy, o temível serial killer, como uma pessoa comum, quase inofensiva, mas que esconde, de maneira dissimulada e calculada, feitos aterrorizantes.
Aliás, Zac Effron convence demais como o carismático Ted Bundy. Ele consegue preencher as cenas com a simpatia que o psicopata esbanjava e, em cenas comparativas que o próprio filme traz, você vê o quão fiel o ator conseguiu ser à personalidade deturpada do homem. Ele te conquista. E, por alguns segundos, você até mesmo desconfia se o filme não vai trazer um plot twist e não ser nada daquilo, mesmo sabendo que Ted Bundy É REAL e cometeu crimes tão atrozes que, como uma amiga me relatou, assistir ao documentário sobre ele nos faz querer dormir com a porta do quarto trancada.
A atuação de Lilly Collins como a namorada de Ted Bundy é maravilhosa, como era de se esperar da atriz. Sofremos com ela em cada pedaço, observando o seu coração se partindo em mil pedaços e sua alma se rasgando com a dúvida: seria o homem pelo qual se apaixonou um assassino tão vil assim? Seria ela trouxa esses anos todo? Estaria enganada sobre a índole aparentemente boa de Ted? A resposta para tudo isso é: SIM.
Os outros personagens são incríveis, completam muito bem a trama e aparentemente, atuaram de maneira muito semelhante às pessoas que realmente estiveram presentes naquela época. Temos John Malkovich, Kaya Scodelario, Haley Joel Osment e Jim Parsons (fazendo um Sheldon sério).
A direção de Joe Berlinger é muito bem colocada, com enquadramentos de câmera que podem trazer profundo desconforto, que fazem questão de focar nos elementos importantes da cena. O filme foi feito todo em tons pastéis, exaltando o clima dos anos 70, complementado com cortes de cabelo, roupas da época etc.
O filme não traz uma ação frenética ou cenas de horror gore. Na verdade, o longa é uma história bem crua sobre um vilão da vida real e uma realidade mais aterrorizante do que qualquer outra coisa: o psicopata pode morar com você. E você pode não desconfiar.