Animação da DC adapta obra clássica de Mark Millar
Uma das histórias mais famosas do Superman foi adaptada para animação pela DC. Superman: Red Son (Entre a Foice e o Martelo, em português), HQ de Mark Millar (Kick Ass) conta uma história alternativa onde o famoso herói seria, na verdade, soviético. Para ter uma ideia da fama da HQ, ela era a história mais aguardada por um relançamento por brasileiros. Essa informação veio da própria Panini que fez uma votação antes do relançamento da história em 2017. Confira nossa crítica com spoilers.
A adaptação para animação, seguindo um padrão da DC, conta os principais pontos da história resumidos para caber em um filme de mais ou menos 85 minutos. O filme faz um bom trabalho em resumir bem a história de uma forma que faz sentindo. Infelizmente, alguns personagens como Mulher-Maravilha e Batman entram e saem da trama de forma meio rápida. Esses personagens acabam não tendo muito desenvolvimento e deixam um gosto de quero mais.
Animação Feijão com Arroz
No quesito de qualidade de animação, o longa traz um estilo que puxa mais para o traço de Bruce Timm (Batman: The Animated Series). Felizmente, esse estilo de arte é bem melhor do que algumas das últimas animações da DC que remetiam a um traço mais anime. A animação faz um feijão com arroz em diálogos e cenas de luta, mas não é nada de muito extraordinário. Um ponto fraco importante é a inserção de elementos em 3D que não conversam muito bem com o estilo da animação e acabam tirando um pouco a imersão em certos momentos. A dublagem original em inglês não chega a ser um problema mas faz um trabalho bem básico com dubladores já conhecidos pelas animações da DC. Um ponto alto da adaptação é a abertura que remete às incríveis capas originais de Dave Johnson (100 Balas).
Em questão de narrativa, os principais problemas de roteiro aqui são os mesmos da HQ. Superman: Entre a Foice e o Martelo é a visão de um americano liberal sobre a Guerra Fria e a União Soviética. Eu acredito que é uma história que enaltece os seres humanos em detrimento ao Estado. Existe uma crítica à Guerra Fria como conflito e também às duas potências. Mas claramente pende mais para o lado capitalista, fazendo muitas vezes uma crítica mais pesada à URSS. Em alguns momentos, a história gera uma reflexão interessante mas na maior parte do tempo é bem superficial.
O problema do final
O final, como na HQ, é o ponto mais fraco da obra. O embate com um vilão bem cartunesco que aparece do nada diminui muito a narrativa política que a história possui. Além disso, existe uma mensagem final de que as pessoas devem tomar suas próprias decisões sem a intervenção do Estado ou de uma força superior. Mas o próprio Superman não faz parte da humanidade? Por que então é errado que ele use seu poder e influência para o bem comum? Claramente ele estava equivocado em algumas das suas ações como governante, mas isso é um motivo forte o suficiente para que ele simplesmente desista? E o que dizer sobre a Mulher-Maravilha que desiste da humanidade por causa da sua decepção com o Super?
A visão liberal e anti-governo de Millar sugere que as pessoas devem ser livres, mas será que os humanos estão preparados para essa liberdade? Além disso, o status quo mantido no final da história é tipo um capitalismo social democrata. Esse modelo de governo pode ser melhor para os mais pobres, mas mesmo assim ainda mantém muita desigualdade social e problemas do capitalismo. A história termina em um senso comum de que se a experiência da URSS foi falha, o capitalismo ainda é nossa única opção.
Veredito
Superman: Entre a Foice e o Martelo é uma animação que consegue condensar bem a história da HQ em pouco tempo e diverte pela maior parte do tempo. Repetindo os mesmos problemas da história original, o enredo começa bem melhor do que termina. Existe espaço para reflexões e discussões políticas interessantes, mas basta uma reflexão maior para perceber que é tudo muito raso e enviesado. Se você assistir com o conhecimento de que isso foi feito por um americano, você até entende algumas das mensagens erradas que o final pode passar. É claro que tanto o comunismo quanto o capitalismo têm problemas. O errado é achar que um deles é o “normal” e nossa única opção, enquanto o outro matou milhões e deixou outros milhares com fome. Até parece que não tem muita gente morrendo e sem comer no mundo hoje não é mesmo?