Quando Sonic: o filme lançou, lá em 2020, eu fiquei com muito medo. O ouriço azul fez parte da minha infância e eu não queria que ele fosse outro bom personagem desperdiçado em um filme ruim que nem as crianças iriam curtir muito. Por sorte, fui agradavelmente surpreendida e me diverti horrores, o que me fez temer pela sua sequência: ela seria melhor? Igual? Pior?! Tem até aquele ditado de não mexer no que tá quieto. Para a nossa sorte, não deixaram.
Sinopse: Após ficar em Green Hills, Sonic quer provar que tem o necessário para ser um herói de verdade. Seu teste virá com o retorno do Dr. Robotnik, dessa vez com um novo parceiro, Knuckles, à procura de uma esmeralda com o poder de destruir civilizações. Sonic se junta ao seu próprio coadjuvante, Tails, e juntos embarcarão em uma jornada pelo mundo para encontrar a esmeralda, antes que ela caia em mãos erradas.
Em um ótimo retorno às telonas, depois da última aventura, Sonic se acha pronto para ser o herói que o mundo merece ter. O problema é que ele é muito novo, empolgado e inconsequente, e as coisas não vão tão bem quanto ele acha. Aqui, o filme reafirma o tom familiar do seu antecessor, reforçando o relacionamento de Tom e Maddie (Tika Sumpter) com Sonic, que é completamente paternal/maternal. Em um discurso bem paizão, Tom Wachowski (James Marsden) tenta ensinar ao jovem ouriço que ele precisa de paciência e responsabilidade, ou pode acabar dando muito ruim, e que deve esperar pelo momento em que é necessário para o mundo ao invés de correr atrás de problema. É muito gostosinho ver a relação dos personagens, e como conseguiram construir essa química de família com seres que nem existem!
Aliás, o elenco, desde o primeiro filme, parece estar se divertindo horrores, o que traz bem mais leveza às cenas, conseguem atingir o tom correto para a piada e as inúmeras referências pop, que são bem encaixadas e você é surpreendido com risadas quando menos espera. A boa e velha fórmula do longa que serve a toda família e tem espaço para pais/mães se divertirem com suas crianças sem parecer uma obrigação chata.
Jim Carrey reprisa de forma fenomenal o seu Dr.Robotnik, cada vez pirado na batatinha e cabe a ele a cena de abertura do filme, e que cena! É quase impossível não rir perante aos momentos solo do ator no tal planeta dos cogumelos. Para sair de lá, após um plano completamente mirabolante, o vilão se alia a Knuckles (Idris Elba) – primeiro para voltar a Terra e depois para encontrar a tal esmeralda que pode transformar pensamento em poder. Sonic atua completamente confiante em derrotar seu algoz, até bater de frente com a força do guerreiro vermelho, trazendo um desafio ao azulzinho se fossem somente o maléfico Robotnik. Para ajudá-lo em sua missão, o pequeno Tails (Colleen O’Shaughnessey) e suas engenhocas aparecem – o que fez meu coração pular duas batidas, pois é o meu personagem favorito desde criança.
Enquanto as crianças buscam a tal esmeralda, Tom e Maddie estão no casamento de Rachel (Natasha Rotwell), a esquentada irmã de Maddie, com o bonitão Randall (Shemar Moore). Uma parte positiva aqui é que não há competição masculina para ver quem é o mais forte ou algo que homens cis achem que seja necessário para provar a própria masculinidade, algo que pensei que fosse acontecer, pois o noivo é aqueles caras altos, fortões, com vários amigos padrão que ficam comparando músculos, ainda assim não faria sentido para mim. Alguém já viu o bração do Marsden? Pois é. Esse plot em paralelo constrói uma base boa para entrar no próximo ato, aquele em que tudo parece começar a dar errado. E o timing cômico é incrível também.
À medida que o filme vai aumentando o ritmo, a ação vai ficando mais intensa. Algumas pessoas reclamaram que os momentos finais deveriam ter sido mais épicos, e pareceu a elas que o dinheiro acabou e então resolveram terminar sem isso. Eu, particularmente, gostei, não achei que precisava de mais. Pra mim foi o tom ideal, e houve uma construção ao longo das duas horas de filme (que você nem sente o tempo passar) que culmina para o modo como tudo acaba. Ah, esse também tem cena pós-crédito, viu? Mas só uma!
O elenco, como já dito, tá sensacional, inclusive o de vozes. Assisti ao filme dublado, e aplaudo de pé Tatá Guarnieri (se eu errar, me corrijam) por manter o excelente trabalho que é conseguir dar aquela entonação empolgada, maquiavélica e doidona do Jim Carrey.
No fim, o filme se saiu melhor do que o primeiro, é perfeito para assistir com o galerê todinho, tendo de tudo: ação, comédia, um toque de drama e até, por que não? romance. (E claro, aquela deixa marota para um terceiro).