Faz quase 14 anos que o primeiro Piratas do Caribe estreou nos cinemas. Com absurda popularidade, a franquia que tornou Johnny Depp o ator mais bem pago de Hollywood foi perdendo força narrativa com a mesma velocidade que ultrapassava a barreira do bilhão em bilheteria com seus filmes (um grato desafio para quem quer continuar contando suas histórias e ganhando muito dinheiro). Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar representa uma tentativa da Disney em retomar a essência perdida.
A trama dessa nova empreitada gira em torno de Salazar, uma nova pedra no sapato de Jack Sparrow, que busca vingança junto a uma tripulação fantasma assassina. Enquanto isso, vemos o jovem Henry Turner (Brenton Thwaites), filho de Will e Elizabeth, em busca de um meio de quebrar a maldição rogada ao pai, preso às suas responsabilidades no Holandês Voador.
Apesar de dar todo sentido narrativo às decisões, a adição de Brenton como filho do casal querido por muitos fica devendo, tanto no carisma do ator quanto na qualidade ao atuar. Fica a impressão de que, uma vez amarrada a história, a prioridade é mesmo o tom de aventura que permeia toda a franquia Piratas do Caribe. O mesmo vale para Kaya Scodelario, que dá vida a Carina Smyth, personagem que acaba sendo melhor desenvolvida mais para o final, junto com o Capitão Barbossa (Geoffrey Rush).
Da mesma forma que não funciona bem dar profundidade e tempo de tela para um ator desconhecido e (pelo menos ainda) sem muito carisma, também não e correto entregar personagens vazios para figuras consagradas. Infelizmente, é o que acontece com Javier Bardem nesse Piratas do Caribe. Mundialmente gabaritado pela sua vilania em Onde os Fracos Não Têm Vez, o espanhol faz o básico com seu Salazar, onde o diferencial fica apenas pelo aspecto visual, além de alguns maneirismos na fala. Longe da beleza estética de Davy Jones (Bill Nighy, do segundo e terceiro filme), mas próximo do asco causado.
Ao menos, é resgatando o passado entre Jack Sparrow e Salazar que temos uma sequência muito legal de Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar, onde o ator é rejuvenescido digitalmente. Não é um trabalho de aplaudir, mas mostra ao menos um teco do lado mais sacana, astuto e até heroico do personagem logo em seu início como capitão do Pérola Negra.
Isso é o que realmente faz falta desde o primeiro filme. Johnny Depp tem interpretado ele mesmo desde o segundo filme, onde a excentricidade de Jack Sparrow saiu dos momentos de alívio cômico para se tornar parte principal do seu caráter nas telas, com algumas pontuais exceções. Retomar personagens como Will Turner (Orlando Bloom) e Elizabeth Swann (Keira Knightley) foi legal e ofereceu um desfecho agradável em formato de fan service, mas a essência perdida de Piratas do Caribe não reside aí (até porque esses personagens também estiveram nos filmes ruins), mas sim em A Maldição do Pérola Negra, subtítulo irônico e passível de analogias em relação ao destino da franquia.
Há cena pós-créditos no filme, dando a dica do que (ou quem) vem para o próximo filme.