A partir da década de 1960, nos Estados Unidos, houve uma onda de serial killers que teve seu pico nos anos 1980 – nessa época, havia pelo menos 200 desses assassinos só nos EUA. Foi o período em que surgiram figuras como Ted Bundy, Jeffrey Dahmer, Richard Ramirez (Night Stalker), John Wayne Gacy, entre vários outros. No Brasil, também tivemos vários, mas isso é assunto para outra história. Há uma série de motivos para que esse aumento acontecesse, e a polícia sofria de vários problemas para resolver esses mistérios, como a falta de comunicação entre delegacias, racismo, misoginia, falta de um sistema de organização que facilitasse a vida de quem estava investigando e muitos etcs. Em “O Telefone Preto” – filme baseado em um conto de Joe Hill -, o ano é 1978, e temos um perigoso serial killer à solta.
No filme, há uma onda de sequestros de crianças por um criminoso que a cidade apenas conhece como Sequestrador (Ethan Hawke), que deixa balões pretos na cena do crime – a única pista palpável para os investigadores. Finney (Mason Thames) e Gwen (Madeleine McGraw) são irmãos, e ambos precisam lutar para sobreviver na cidade, onde sofrem bullying no colégio e violência em casa. Finney é sequestrado e preso em um porão, sem chance de escapar, por um homem mascarado que tem uma fala doce e macia, que faz promessas de não machucá-lo. Claro que é tudo balela.
Ethan Hawke, como o Sequestrador, está incrível. Mesmo que o personagem não apareça tanto, sua presença é suficiente para trazer uma onda de opressão à cena, um senso de medo e urgência, aquela necessidade de se distanciar daquela pessoa, sem que você saiba muito o motivo – embora Finney saiba muito bem porque deve manter distância. O serial killer se utiliza de máscaras assustadoras que compõem o seu visual, dando aquele toque de perigo e acrescentando ainda mais uma carga de medo.
O toque sobrenatural do filme vem com cenas em que o telefone preto toca. A princípio, Finney não quer atender ou, quando atende, não escuta nada além de um chiado. O Sequestrador diz que não funciona, mas Finney logo descobre que não é assim. O telefone funciona como uma ponte entre o garoto e as outras crianças que estiveram ali antes dele, nas quais elas fazem o possível para ajudá-lo a derrotar o “vilão” e a não jogar o seu jogo doentio, preparando-se para reagir e conseguir sair dali relativamente ileso.
Do outro lado, sua irmã tem sonhos “premonitórios”, onde consegue ver o que está acontecendo e, mesmo com medo, insiste em tê-los para encontrar o irmão – seu único ponto de apoio na vida, pois o pai deles é alcoólatra e, bem, não cuida deles como deveria. Mesmo que sua trama seja secundária e sirva como ponto de apoio ao enredo principal, a atriz consegue roubar toda cena em que aparece.
O foco da história do filme não é o terror ou mesmo o sobrenatural. Eu poderia até dizer que o gênero aqui seria mais para um suspense psicológico com toques de terror e do sobrenatural. Os ambientes que conhecemos ao longo da narrativa são todos opressores, e os tons apagados das cenas aumentam essa sensação de desesperança, insistindo num tom frio aos locais por onde os personagens passam. Até a trilha sonora complementa esses cenários, totalmente despreocupada em trazer nostalgia. A história, em si, é sobre sobrevivência, onde vemos os pequenos lutando de um lado ou de outro por isso, e o diretor conseguiu acertar perfeitamente o tom.
Se você espera sustos, sair apavorado ou algo do tipo, pode sair decepcionado. Porém, se procura uma boa história, que vai te trazer aflição e te dividir entre as crianças e o assassino, “O Telefone Preto” é uma excelente escolha.