Não existe dúvida que o primeiro Matrix é um dos melhores e mais importantes filmes da história. Infelizmente, nem as continuações nem outros produtos feitos pelas irmãs Wachowski chegaram perto da qualidade do longa. As criadoras geralmente possuem ideias bem inovadoras e diferentes do que é feito em Hollywood. Porém, a execução acaba deixando a desejar. O fato não é diferente do novo Matrix Resurrections. Confira a crítica a seguir sem spoilers.
Em Matrix Resurrections, temos novamente Neo (Keanu Reeves) preso dentro da Matrix, agora como um game designer do famoso jogo Matrix. Nessa realidade, Matrix foi um grande jogo de sucesso e agora a Warner precisa de uma continuação, mesmo a contragosto do seu criador. Ao mesmo tempo, nosso herói está cada vez mais confuso sobre o que é e o que não é real.
Não quero entregar mais do plot a partir daí e gostaria de dizer que adorei esse início. Eu pagaria fácil para ver um filme todo de drama psicológico a lá Charlie Kaufman de Neo questionando a realidade enquanto o filme funciona como uma metalinguagem. Não me levem a mal, Matrix 4 é isso aí, mas, infelizmente, é também outras coisas. Lana Wachowski não tem a qualidade técnica de roteiro e direção de um Kaufman. Por causa disso, seu meta-filme se resume a uma crítica rasa, brega e nada sutil sobre a indústria do entretenimento e as expectativas que o público tinha de um novo Matrix.
Apesar da ideia boa e ótima intenção, pouca coisa funciona no filme. Para elogiar algumas coisas temos o início e também a adição do novo Morpheus (Yahya Abdul-Mateen II). Tanto sua atuação como também a ideia por trás do personagem são excelentes e agregam muito ao longa. É uma pena que o mesmo não possa ser dito dos outros atores. Keanu Reeves me parece que chegou em um ponto tão memístico da carreira que fica difícil saber se ele está atuando ou sendo ele mesmo. Os personagens novos são totalmente sem carisma e alguns antigos possuem até boas reinterpretações, mas com pouco desenvolvimento. Gostaria de saber mais sobre o novo agente Smith (Johnathan Groff) e sua nova relação de rival amigável com Neo, mas o personagem entra e sai da trama sem acrescentar muita coisa. Existem mais dois personagens antigos que aparecem com atuações sofríveis e maquiagens que parecem tiradas de um filme de final da noite da Band. Carrie-Anne Moss como Trinity talvez seja a personagem mais carismática e que toma para si um protagonismo interessante para um novo Matrix, sendo essa uma das poucas evoluções do longa.
Se a parte psicológica ainda consegue se salvar, a ação é sem criatividade e mal coreografada. Eu não acredito que Lana seja esse gênio do crime que fez um filme ruim de propósito para criticar a Warner e fazer uma trolagem com os fãs antigos. Em um certo momento, o filme se torna aquilo que ele procura criticar, só que de uma forma chata e desinteressante. A história, inicialmente interessante, se torna algo que facilmente seria retirado de um longa genérico dos anos 2000 que entrou na onda do primeiro Matrix. São tantos plots e tantas ideias que nada é desenvolvido ao ponto de você se importar. Ele termina com uma mensagem legal, apesar de nada sutil, e com uma breguice que fez eu me encolher enquanto assistia.
Eu realmente odeio ficar do lado dos nerds velhos que estão odiando o filme, mas a Lana não ajuda. Ainda acho que as irmãs fazem coisas que pouca gente faz em Hollywood, trazendo referências principalmente do oriente que poucos tem coragem de utilizar. Mas é uma pena que elas não tenham uma técnica tão boa para produzir obras realmente de qualidade. Matrix Resurrections ainda é melhor do que continuações e filmes genéricos que só servem pra tirar seu dinheiro. Suas autocrítica e reflexão sobre a indústria são interessantes e há quem diga que é “ruim de propósito”. Mas isso não cola comigo, analiso essa obra como um filme, e como esse tipo de mídia, ela deixou muito a desejar.