Crítica SEM spoiler.
Espetacular! Este adjetivo já foi muito utilizado pelos críticos para enaltecer os filmes do Homem-Aranha, um dos personagens mais rentáveis da Marvel. Entretanto, Homem-Aranha – Sem Volta Para Casa é, até agora, o filme que mais merece receber este elogio rasgado.
A última vez que os cinéfilos criaram um hype tão forte sobre um filme de super-herói foi o histórico Vingadores – Ultimato em 2019. Todos queriam ver o desfecho da história que levou mais de 10 anos para ser contada. Havia um misto de nostalgia com orgulho em assistir a tantos personagens, que, inevitavelmente, criaram vínculos afetivos com o público durante todo esse tempo, reunidos em um só filme. Em 2021, a Marvel e a Sony lançaram Homem-Aranha – Sem volta para casa, utilizando-se da mesma estratégia de Vingadores – Ultimato, mas de maneira mais facilitada. Pelo primeiro trailer, a presença de vários vilões que participaram das outras versões do Homem-Aranha no cinema mexeu com as lembranças de todos. Quem não iria querer rever o maquiavélico Doutor Octopus (Alfred Molina), o insano Duende Verde (Willem Dafoe) e o perigoso Electro (Jamie Foxx)? Um passeio pelos filmes do passado, que nem foram planejados para isto, se tornou o caminho perfeito para atrair a atenção do público que sempre demonstrou carinho pelos outros filmes. Bastava um bom cachê para convidar os atores que viveram os personagens nas franquias anteriores, um bom roteiro que permitisse essa quase fanfic sem fugir dos planos da Fase 4 do MCU e montar um admirável esquema contra spoilers para aumentar ainda mais o interesse… e pronto! As chances para nascer um novo sucesso eram altíssimas. E, felizmente, assim foi.
Peter Parker (Tom Holland) tenta lidar com as consequências do seu maior segredo ter sido revelado por Mysterio (Jake Gyllenhaal). Todos agora sabem que ele é o Homem-Aranha e, em busca de voltar a ter sua identidade secreta, Peter Parker pede ajuda ao Doutor Estranho (Benedict Cumberbatch) para reverter a situação com um feitiço. As coisas não saem como deveriam e os maiores adversários de Homem-Aranha de várias realidades paralelas aparecem, criando assim o maior desafio que o herói já enfrentou.
Óbvio que o ideal é assistir a qualquer filme sem grandes spoilers, mas o conforto que posso tentar dar é que Homem-Aranha – Sem Volta Para Casa tem tantas cenas impactantes que nenhum spoiler conseguirá estragar essa experiência por completo. Porém, quanto menos se souber, melhor será a exploração com este presente para os fãs que a Marvel/Sony preparou.
O ritmo do filme do diretor Jon Watts é tão envolvente que a duração de 2h28min fica imperceptível. Não é preciso teia de aranha para prender ninguém na cadeira. São diversas cenas de ação com efeitos especiais impressionantes, humor bobinho que funciona e drama para partir os corações mais resistentes. Está tudo bem encaixado, sem exagero para nenhum dos lados.
Um ponto forte do roteiro é não se limitar em transformar o filme em apenas um combate do herói contra o grupo dos malvadões. Óbvio que as esperadas cenas de luta estão lá, da maneira mais empolgante possível, mas a maneira que Peter Parker enxerga a situação em que precisa enfrentar fortalece uma das camadas mais tocantes do personagem. Não basta só ter grandes poderes sem um grande coração. A bondade de Peter Parker é tão comovente que isso sim deveria ser um “spoiler” a ser compartilhado. Acima de qualquer participação especial, de cenas mirabolantes e “quem vive e quem morre”, o principal que as pessoas deveriam estar querendo ver é a homenagem majestosa ao personagem criado em 1962 e que, desde então, vem marcando gerações com sua tendência a se sacrificar pelo bem dos outros.
A dinâmica entre o trio formado por Peter Parker, a namorada Michelle Jones (Zendaya) e o melhor amigo Ned Leeds (Jacob Batalon) cresce e torna-se fundamental para a história, trazendo assim mais importância para os personagens secundários e permitindo que os atores possam ser mais notados. Até a tia May (Marisa Tomei) tem mais relevância neste filme, sendo utilizada para bons momentos de tensão.
O terceiro ato do filme é para causar gritaria e aplausos, daquele jeitinho Marvel de sempre. Por mais que você crie conjecturas sobre como irão fazer prováveis cenas, a imaginação desses profissionais vai bem além do que a nossa mente pode ir. São imagens tão lindas que é impossível não desejar na hora uma blusa estampada ou um quadro com o que se assiste. E se não bastasse a satisfação em constatar que o filme está finalizando superbem, a trilha sonora com uma ópera vira o último detalhe para arrebatar a todos. Aos mais emocionados – e nem estou citando as crianças, heim? –, chegará um momento em que a admiração fará esquecer que isso tudo é apenas ficção. Muitos vão crer no Homem-Aranha de tão bom que é.
É o filme que o amigo da vizinhança merecia. Arrepia tanto que todo mundo pensará que tem o “sentido-aranha”. Nada poderá tirar esse super-herói de nossas cabeças, porque o teioso já está grudadinho em nos nossos corações.