Há meses somos saturados com notícias e baits envolvendo o filme Godzilla vs Kong, um dos filmes mais aguardados desse ano – afinal, quem não ama uma luta entre criaturas gigantes? No dia 1° de abril, apesar de parecer mentira, ele finalmente foi lançado! Será que finalmente vamos descobrir quem é melhor no ringue? Mamaco ou Calango?! Façam suas apostas!
A trama
O filme começa sossegado com o King Kong acordando, vivendo sua rotina matinal – só faltou ele sair do banheiro, de tão parecida que a cena é com a de Shrek – e, de repente, ficando puto, fazendo uma lança usando uma árvore e atirando no céu… Que na verdade é uma redoma, pois ele vive em um ambiente controlado para escondê-lo do Godzilla, pois, aparentemente, só pode haver um titã na superfície da Terra (onde será que foram parar aqueles do Godzilla 2?). Logo, se o King Kong – que viveu com a família de boaças na sua ilha por anos, saísse daquele ambiente, o lagarto gigante iria atrás do mamaco para quebrar ele na porrada.
O enredo tem dois núcleos: os a favor do Godzilla e os do King Kong, parecendo as brigas que rolaram na internet sobre quem ia vencer no ringue. De um lado, temos um podcaster da teoria da conspiração, a Milly Bob Brown, chamada de Madson aqui, e o amigo Josh, que é basicamente o seu sideckick.
Nesse lado, o podcaster, Bernie, consegue se infiltrar em uma bilionária empresa que ele tem certeza que esconde algo muito cabuloso – e ele teoricamente descobre, mas, antes que possa se aprofundar, por alguma razão, o Godzilla começa a atacar as instalações e a destruir tudo e ele tem que fugir. Ao que Madson, unida ao seu fiel amigo, vão atrás de Bernie para tentar descobrir o motivo pelo qual o titã resolveu atacar humanos, quando, no passado, ele os havia protegido.
No lado de Kong, temos a menina Jia, uma criança surda com uma conexão de amizade com o mamaco, sua mãe adotiva Illene – que é a responsável por manter o King Kong afastado do Godzilla, e o Dr.Nathan, que eu me recuso a chamá-lo assim, pois o ator fez o Tarzan e acho que combina mais com o plot. Ele é um péssimo Tarzan, aliás.
O Tarzan recebe a visita do dono da tal empresa bilionária, que eu acho que se chama Pax – desculpem, o enredo é tão ruim que os nomes me fogem à cabeça, e este faz uma proposta: usar a pesquisa do Tarzan sobre a Terra Oca, que seria uma Terra dentro da Terra, mas no centro do planeta (tipo A Era do Gelo 3), de onde os titãs saíram originalmente, para poderem ir até lá e pegarem um tipo de energia superior que poderia mudar o curso da história da humanidade. É uma energia que não é explicada, mas o Tarzan se empolga com o plano para obtê-la, indo na fé que o dinheiro do cara conseguiu construir um transporte (que nunca foi testado) capaz que chegar até lá, mesmo que o irmão dele – do Tarzan – tenha sido esmagado pela gravidade numa tentativa prévia.
Tarzan, super empolgado, consegue convencer Illene a levar o Kong para a Terra Oca, com a desculpa de que seria melhor pro mamaco e ela, preocupada com a raiva e a frustração que o ser primal sente preso ali, resolve aceitar.
O que poderia dar errado?
Além de todas as tramas principais serem extremamente rasas e apressadas, para que se chegue logo o momento dos titãs brigarem (que é o que a gente quer), a maior parte dos assuntos citados no filme não tem um pingo de explicação ou sentido, em um roteiro muito preguiçoso, que é muito expositivo em coisas óbvias e, em coisas que precisávamos saber, não contam nada e a gente que lute. Não sei se acontece ou aconteceu com vocês, mas me tirou totalmente da trama, porque eu ficava o tempo todo “que porra é essa?!”
Temos vilões humanos genéricos, inclusive, o chefe lá da empresa, que resolve que, ao invés de termos o próprio Godzilla, muito melhor termos um MechaGodzilla que ele possa controlar. Porque, óbvio, precisamos que o tema na verdade seja a humanidade vs a natureza – além da briga épica entre os titãs. A ganância humana ser sempre maior do que o seu bom senso é uma das lições tiradas do longa.
Aliás, os dois plots não precisavam de tantos personagens. Madson já estava na saga e se concentra em descobrir qual é o plano maléfico por detrás do que está acontecendo, pois ela acredita no Godzilla. Seu melhor amigo está ali de alívio cômico e o uso de Bernie é exclusivamente para que ela possa ter acesso aos locais certos e descobrir a verdade.
Na trama de Kong, a “vilã” é apresentada na forma desagradável da filha do dono da empresa, e faz o impensável: na Terra Oca, ela faz download, sim, isso mesmo, DOWNLOAD da energia que eles descobrem para seu pai, que imediatamente a põe em uso. Primeiro que é uma energia que buffa o machado do Kong, que depois descobrimos que vem da radiação do Godzilla, então, seria a energia radioativa do calango que eles estavam atrás? Uma que é, obviamente completamente desconhecida, sem pesquisa alguma, milenar, e eles acham uma boa ideia passá-la diretamente para o seu experimento de MechaGodzilla por download, preciso frisar. Aliás, esses experimentos com o robô do calango são a verdadeira razão dele começar a atacar os locais – ele não gostou nem um pouco do plágio descarado sem pagarem os seus direitos autorais.
Segundo, não há sensação de urgência no filme – até os titãs se encararem, claro. Acontecem diversas situações que tecnicamente são tensas, mas são tratadas com tanta naturalidade, que tanto fazem. Até mesmo na luta entre os monstros, há inconscistências tão grandes que eu era tirada direto da ação para ficar questionando as situações.
E aí? Godzilla ou King Kong?
Eu adoraria dizer “assistam e descubram”, mas a verdade é que o roteiro não foi corajoso o suficiente para responder essa questão de maneira satisfatória.
A história traz muitos pontos confusos, sem explicação, e situações para lá de convenientes; a fotografia é linda, e as cenas de luta são bem feitas, porém, a conveniência ainda fala mais alto em 90% do filme. É meio doloroso de assistir.
Cada personagem tem seu lugar muito encaixadinho, em uma missão única e repetitiva, sem que haja desenvolvimento na história ou nos personagens. O enredo quer correr logo para a parte principal, que é o motivo pelo qual todos vão atrás de assistir ao longa, que é a briga, então não perde tempo em partes que seriam fundamentais para o entendimento do filme como um todo.
No fim, é um filme confuso, e, sinceramente, quando se trata de seres gigantes brigando, eu normalmente não me importo com a história – vide Pacific Rim, que eu amo pelo simples fato que as brigas são lindíssimas e empolgantes, mas em Godzilla vs Kong, não me empolgaram muito, pois houve inconsistências até nisso! Tem uma cena em específico que me marcou, que foi o Godzilla RINDO de maneira cruel. Eu só conseguia pensar em como um protetor na verdade é tão cruel, e se há uma briga milenar entre os titãs – como sabemos que há, por que esse fator não foi explorado mais do que a frase “se soltarmos o King Kong o Godzilla vem pegar porque não pode ter dois alfas“? Sério, parecia que uma das mais épicas brigas de gigantes foi transformada em briga de hétero top!
Terminei o filme decepcionada, mas pode ser que outras pessoas se sintam contempladas pela porradaria. É esperar pela reação de vocês.