Foi com elogiável êxito que o maior representante dos filmes kaiju retornou aos cinemas em 2014 sob a direção de Gareth Edwards. Agora, é a vez da sua merecida sequência, que visa estabelecer Gojira como o maior de todos em Godzilla II: Rei dos Monstros.
A trama abandona personagens do elenco de 2014, como Elizabeth Olsen e Aaron Taylor Johnson, que tiveram suas histórias completadas. Junto deles também abandona-se o roteiro cadenciado do primeiro filme, que sabia lidar muito melhor com o clímax para suas aparições e batalhas. Agora, o ritmo é bem mais acelerado e com grande atenção nas lutas.
Quem reclamou que tinha pouco Godzilla em 2014 pode acabar fazendo a mesma reclamação em 2019, mas por outros motivos. Há muito mais monstros em tela e essa é a proposta do filme, mas o desenvolvimento do principal deles não é dos mais lapidados, embora consiga percorrer sua trajetória rumo ao reinado do planeta.
A direção de Michael Dougherty não é tão boa quanto a de Gareth Edwards, pois ele não consegue conduzir muito bem suas cenas nas quais os monstros perdem um tanto do impacto que deveriam causar. Talvez isso ocorra pelo maior volume de cenas com monstros em tela, já que os momentos onde o suspense é bem usado são poucos. Um deles – e que vale ser mencionado – é na primeira aparição do Godzilla quando acompanhamos uma base subaquática. Também falta a ele melhor trabalho em planos mais abertos que reforçariam os atributos dos monstros.
Para um projeto que se propõe a ter tantas batalhas épicas, talvez fosse necessário mais equilíbrio na fotografia. As cenas noturnas são predominantemente escuras, muitas vezes dificultando o entendimento do que ocorre na tela, como na primeira participação de King Ghidorah.
No entanto, o filme usa bem seu orçamento – na casa dos US$ 200 milhões. O design dos monstros estão bem trabalhados e a mitologia de cada um tem sua devida abordagem.
O pacote de monstros resulta numa experiência satisfatória, com ótima sonoplastia e uso das luzes carregadas das cores brilhantes de cada criatura. Algumas características dos filmes originais são transportadas para esse, como o fato de cada uma das três cabeças de King Ghidorah possuir personalidade própria. Pode parecer bobagem, mas detalhes assim ajudam a valorizar uma obra. A presença de Mothra soa como um belo fan service na produção, e seus momentos são entre os melhores.
A devida precaução com a escala foi mantida aqui, onde vemos a imponência dos monstros perante a qualquer outra criatura que ouse ameaça-los. Isso fica representado na cena onde Rodan varre uma cidade inteira sem fazer muito esforço. Infelizmente, é um momento que já havia sido entregue nos materiais de divulgação, podendo diminuir o impacto para algumas pessoas. Mas há outros do tipo ao longo do filme, mesmo que em pouca quantidade.
Os humanos de Godzilla II: Rei dos Monstros
Millie Bobby Brown consegue entregar uma personagem diferente da Eleven de Stranger Things na pele de Madison, mostrando uma certa evolução da atriz que ruma para um grande futuro. Mesmo que tendo algum protagonismo, ela esbarra na insignificância humana quando o assunto é filme de monstros gigantes. Sua mãe, a Dra. Emma Russell, é quem melhor se destaca nesse sentido, tendo papel vital para o andamento da trama e carregando a reconhecida competência da atriz Vera Farmiga. Para fechar o núcleo familiar, Kyle Chandler vive o pai de Madison e marido de Emma, que faz um certo contraponto às ideias das duas primeiras – e odeia o Godzilla com boa razão.
Ainda tratando dos seres humanos, Ken Watanabe é mantido na sequência sendo uma homenagem ambulante à cultura pop oriental, tanto pela notoriedade do ator quanto por se referir constantemente ao monstro principal como Gojira. É ele quem defende os principais valores da vida carregando a melhor mensagem do filme e entregando momentos tocantes. No mais, temos Charles Dance como um ecoterrorista que é subaproveitado na trama, algo pouco digno para um dos maiores destaques da série Game of Thrones. Seria uma boa continuar com o personagem em possíveis sequências.
Os créditos finais contém algo que poderia ter sido trabalhado melhor ao longo do filme, que é uma harmonia entre titãs e humanos. Dá um bom desfecho para a trama e melhora nossa impressão do trabalho como um todo.
Godzilla II: Rei dos Monstros é um bom entretenimento para o público em geral, mas uma parada obrigatória para os fãs de monstros gigantes. Mesmo com seus defeitos, há muito sub-texto envolvido, com mensagem sobre como os humanos lidam com o planeta, além das homenagem aos filmes originais japoneses. Aliás, uma boa dica é justamente essa: conhecer mais da cultura japonesa através dos filmes nativos, que servem tanto para divertir quanto para entender sua visão de mundo.
Como curiosidade, vale a dica para você prestar atenção em referências e easter eggs relacionados ao King Kong, já nos preparando para o embate entre os dois monstros que chegará aos cinemas posteriormente. Mas não se preocupe, pois não é nada que altere o andamento da história principal.