Depois de seu papel no tão desinteressante em “A Múmia“, Tom Cruise retorna, no mesmo ano, protagonizando um longa muito mais divertido, maduro e bem humorado. “Feito na América” cai como uma luva para o consagrado ator de Hollywood e consegue a atenção de seu público.
O que parecia ser mais um filme de “tiro, porrada e bomba“, quebra as expectativas nesse quesito, e apesar de ser um longa onde existe a presença de tráfico, cartéis, polícia, não há a necessidade de haver uma cena com troca de tiros entre mocinhos e caras maus. Além do que, ele se sustenta por outros elementos em sua narrativa.
Somos introduzidos no começo da história com um panorama geral do que está acontecendo no mundo no final dos anos 70. Barry Seal (Tom Cruise) é um piloto de avião que fazia contrabando de charutos, daí um encontro inesperado com Monty Schafer (Domhnall Gleeson) o faz trabalhar secretamente para a CIA e aí começa toda a loucura e diversão. A montagem do filme alterna entre um futuro próximo de Barry, onde ele está falando para uma câmera e narrando de forma subjetiva os acontecimentos de sua vida, e eis que é um artifício muito bem usado dentro da trama, diferentemente de outros filmes, a narração não é óbvia e descritiva de momentos presentes, ela vem em complemento e gera diversas piadas funcionais e pontuais.
A edição é bastante apressada de início, cansando um pouco no começo do primeiro ato, mas nunca deixa de situar o espectador, até por conta que sempre aparece uma legenda de onde as cenas estão acontecendo e o ano que estão se passando. Ainda no primeiro ato, parecia que alguns ângulos de câmera e a edição não estavam conversando bem, é usado muitos zoom in e zoom out para efeito cômico e para captar as reações faciais dos personagens. Por serem elementos tão dinâmicos, eles demoram a achar um ritmo confortável dentro da narrativa, quando acham o timing correto e menos “ofensivo” se permitem entrar em consenso com o seu todo.
A direção fica a cargo de Doug Liman (A Identidade Bourne), que já trabalhou antes com Tom, no excelente “No Limite do Amanhã“, e é palpável a química que existe entre a direção e o ator protagonista, principalmente na fiel confiança de deixar Cruise realizar suas famosas cenas sem dublês. O roteiro é de Gary Spinelli, e vale ressaltar que é um filme baseado em fatos reais, o trabalho factual é realizado na medida do possível, sofrendo com adaptações, afinal, trata-se de uma obra cinematográfica, exemplo disso é o próprio Barry Seal, que na realidade, não se parecia nem um quarto com Tom Cruise. É um roteiro simples e que não se prende a grandes reviravoltas, a beleza, comicidade, e voltando a ressaltar, a diversão, mora nas nuances simples, atuações e diálogos.
Os núcleos são bem definidos, alguns menos explorados, assim como alguns personagens, mas nunca de forma gratuita, os poucos que aparecem, desempenham funções importantes para a história, que seja de grande magnitude ou de pequena, mas nunca gratuitamente. Apesar de que, as relações interpessoais na história não são um ponto forte no que diz respeito a muito peso emocional e atuações, destaque para Tom, que claramente está se divertindo com tudo o que está acontecendo, isso estava claro desde as entrevistas em que ele deu.
Os pontos máximos de “Feito na América” moram na construção moral de seu personagem principal, por vezes fazendo o que é certo e por outras agindo por ganância de dinheiro. Isso gera uma personalidade dúbia e até dicotômica, o que faz com que o público nunca sinta raiva ou qualquer sentimento negativo em relação a Seal, até por conta que ele de fato não é uma pessoa má. Na realidade, ele é só o gringo que tudo resolve.
A fotografia de Feito na América acompanha o ritmo do filme, mas optando sempre pela saturação e cores quentes, muita parte do longa se passa na América Central, ambiente mais acalorado e que são influenciados diretamente pela direção dos ventos e pela posição das zonas de convergência tropical, logo, muitas vezes os personagens estão suados e isso ajuda na criação de tensão, principalmente quando o núcleo do cartel está em foco.
Como já citado, o filme “não possui cenas de ação“, mas há um destaque enorme para uma cena de pouso, que ouso dizer que é quase nas raias de humor negro. E isso não é ruim, soma ao todo, já que é uma história lúcida, e que entende o que está fazendo, que conversa bem com o público, poderia seguir facilmente um viés mais fácil e mais estereotipado da coisa, se quer pensar como isso seria, imagine Michael Bay dirigindo esse filme, pois é
“Feito na América” é certamente uma excelente história de aventura e comédia não declarada, e dessa vez, não ver o Tom Cruise correndo, não fez falta.