Em uma grande performance, mostrando a dor e a maturidade imposta a Jesse Pinkman, Aaron Paul e o criador da série, Vince Gilligan, retornam ao árido e tenso universo de Breaking Bad com El Camino.
Quando foi anunciado pela Netflix, El Camino: A Breaking Bad Movie pegou grande parte do público de surpresa, pois não estava sendo aguardado e ninguém (?) achava que precisaríamos desse prequel. Foi a mesma sensação que tive quando fui ver, de forma relutante, Better Call Saul, e que acabei me enganando… De novo.
Como sabemos, em sua última temporada, Jesse Pinkman estava em situação de escravidão, preso, torturado e sendo obrigado a fabricar metanfetamina para a gangue neonazista de Jack. Em sua derradeira ação, Walter White elimina todos em um plano cinematográfico, mas que leva a sua vida junto, permitindo que o alquebrado Jesse conseguisse fugir no carro El Camino, traçando assim um destino em aberto para o personagem.
Assim, o que aprendemos com Breaking Bad – e a forma como o diretor Vince Gilligan nos conta essa história -, faz percebemos que os personagens são humanos, não heróis ou vilões que fazem tudo com destreza e acertabilidade. Eles são falhos e a fuga de Pinkman não será assim um “caminho” tão simples.
O reencontro com os velhos amigos de Pinkman, Skinner (Charles Baker) e Badger (Matt Jones) é o contraponto de uma antiga vida, mais simples, e o atual momento em que este se encontra. Traumatizado, abatido e sem a menor razão de continuar, a única força que o guia é o medo.
É um momento de entender como o personagem interpretado por Paul cresceu em sua dor, e precisa se encontrar. O alívio fraterno vem do crescimento do personagem de Badger, que sempre se mostrou um grande amigo, e sabe como ajudar Jesse nesse momento.
Vince Gilligan nunca facilitou a vida de ninguém em Breaking Bad, e em El Camino não seria diferente. Jesse entra em contato com memórias que o machucam, mas que são importantes para o seu desenvolvimento. Em uma recordação com Mike (Jonathan Banks), ele entende onde pode buscar esse recomeço.
Outros personagens reaparecem em forma de flashback, e o recurso é bem utilizado. Vemos de perto a psicopatia de Todd (Jesse Plemons), e como ele quebrou Pinkman, o deixando completamente sem esperança, mesmo quando sentiu que poderia escapar no passado, este se sente preso de formas físicas e emocionais.
O resgate ao passado traz a oportunidade para Jesse, mas acaba levando-o ao encontro de demônios de sua tortura. Assim, temos uma cena digna dos melhores westerns italianos. E Breaking Bad sempre teve essa aura, suja e empoeirada. Trazer um embate de faroeste é incrível para nos situar o quão esse universo é perigoso.
Jesse Pinkman consegue se reencontrar em uma nova casca, mais certo de si, entendendo suas dores e sem permitir ser usado por ninguém. Ele agora faz o seu próprio destino.
Os momentos finais rendem situações com bons diálogos, e nos remetem ao início de tudo, aos momentos importantes, no apegou da série. Os personagens, por mais evoluídos que estejam, são crus e cheios de esperança. É muito bom ver um Walter (Bryan Cranston) ainda em início de estrada, ainda acreditando que é tudo pela família. Um Jesse Pinkman imaturo, bobo e feliz. E o filme nos brinda com o único porto de felicidade que o personagem tinha: Jane (Kristen Ritter).
No fim, percebemos que El Camino não se trata do carro, não se trata de redenção, mas de redescobrimento. Quem é Jesse Pinkman sem Walter White, quais os caminhos possíveis para fugir de tudo. A busca por um novo início, livre de tudo e, principalmente, da dor.
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