Um mundo onde tudo é perfeito a toda hora, em todo aspecto, e em todos os dias, um lugar literalmente em cor-de-rosa até onde dá a vista. Como querer sair disso e encarar toda a odisseia que é a vida e toda a bagagem pesada que essa consigo traz? É quase desleal pensar nesses questionamentos com uma resposta pronta, mas indagá-los é um excelente exercício filosófico e de debate que —acredito eu— de vez em quando passa em nossas cabeças. Maturidade? Uma nova visão do prisma que ganhamos com o passar do tempo? Como se sentir pertencente a um lugar, ou, há igualdade nos espaços em que ocupamos? Por incrível que pareça, Barbie joga em nossa cara todos esses questionamentos. Alguns mais explícitos —a maioria deles— outros não, mas o importante é: eles estão lá.
Barbie ficou a cargo da direção de ninguém mais, ninguém menos, que Greta Gerwig (Lady Bird, Adoráveis Mulheres), que também co-escreveu o filme junto de Noah Baumbach (Frances Ha, História de um Casamento). E o aspecto da direção no ponto de vista dos assuntos abordados e da ótica da protagonista, que é a própria Barbie (Margot Robbie), não poderia ser trabalhado de maneira mais sensível e palpável do que nas mãos de uma diretora.
Nota-se frequentemente como as situações adversas no filme são abordadas com um excelente tom de comédia e um perfeito timing para tal. O roteiro é muito perspicaz em todas as circunstâncias para a criação de momentos cômicos, sejam cenas inteiras ou apenas a fala de algum personagem. E esses ápices de humor sempre vem a favor da narrativa e/ou corroborando para a construção das pautas abordadas durante o filme. Inclusive, há um breve instante de uma certa “quebra de quarta parede” que é simplesmente sensacional. Em vários momentos, o humor em Barbie segue na linha do absurdo “é real e por isso é engraçado”, e Greta explora isso no roteiro e na direção de maneira que não fique enfadonho, tampouco pareça que está usando em demasiado a mesma estratégia.
O roteiro segue bem um padrão de narrativa de histórias, o que torna sempre muito satisfatório as sensações de resoluções dentro da trama, que é bem amarrada, mas o charme e toda a importância que esse filme traz não reside em sua reinvenção da roda, ou de ter inventado o cinema 2, mas sim como ele trata de assuntos bastantes complexo mas de forma “simples”, e o tema chave do filme é: feminismo. E não! o texto do longa não cai no âmbito panfletário da coisa, existe certos momentos da história que parecia que seguiria nesse caminho, mas não. A direção é muito hábil em colocar no trilho certo tudo que é levantado de questionamentos sobre esse movimento, que nada mais se trata de que igualdade de gênero.
Barbie é um sensacional produto de sua época. Trazendo consigo uma vasta gama de discussões e pensamentos, que não caem no clichê, e diverte enquanto coloca uma pertinente ideia na cabeça dos espectadores.