Disney adapta mais um de seus clássicos para o live action, dessa vez com o comando de Guy Ritchie, entregando uma produção divertida, nostálgica e visualmente bem resolvida
A Disney tem apostado forte nas adaptações realistas de suas franquias consagradas, como foi com Malévola, Mogli, A Bela e a Fera, Dumbo. A bola da vez é Aladdin, uma produção cercada de dúvidas por muitas pessoas que não foram convencidas pelos trailers, mas que certamente deveriam dar uma chance a essa adaptação por alguns motivos.
O maior mérito desse live action de Aladdin é ser visualmente bem resolvido. Isso vai desde sua retratação da riqueza e pobreza de Agrabah até os efeitos especiais das magias e CGI dos animais. Com o Gênio da Lâmpada, as coisas ficam esteticamente melhores nas cenas de dia do que de noite.
Há uma jogada no roteiro de Guy Ritchie e John August que, se não for agradar a todos de um modo geral, vale elogio pela tentativa. Logo de cara o texto oferece ao espectador a imagem de Will Smith na condição de narrador da história, dando vazão ao desgaste de alguns que não o aceitaram muito bem como Gênio da Lâmpada nos trailers. Ao final, o mesmo roteiro quebra essa ideia de modo positivo.
No entanto, vale destacar aqui a previsibilidade toda da história. Nem me refiro ao fato de já termos uma versão animada do personagem da Disney, ou mesmo a obrigação imposta pela Casa do Mickey de um final feliz para suas produções. Ao longo do filme as dicas são um tanto óbvias, comprometendo o impacto do terceiro ato e consequente desfecho. Ao menos, temos com isso um discurso mais atualizado com questões de equilíbrio na diversidade, principalmente com a princesa Jasmine. Nada que ultrapasse a questão moral já estabelecida desde sua concepção em 1992 ao tratar de temas como diferenças sociais, honestidade e cobiça.
Relembrando o Aladdin dos anos 90
Musicalmente, Aladdin cumpre um bom papel. O trio formado por Will Smith, Naomi Scott e Mena Massoud entrega performances que não se estendem demais (mantendo a distração de quem não é muito feito a musicais, como eu), fazendo a saudável mescla de músicas inéditas com clássicas como a épica introdução Arabian Nights e Prince Ali. Essa última, aliás, muito espetaculosa e fiel ao desenho, com grande performance de Smith.
Mena Massoud é uma grata surpresa a essa produção. Na pele de Aladdin, vemos uma boa retratação de um jovem periférico e miserável que pratica pequenos furtos para poder sobreviver num cenário de pouca perspectiva para quem não é bem nascido. Ao mesmo tempo, ele entrega uma malícia sacana que agrega personalidade ao papel. Trazendo um nivelamento mais justo entre mulheres e rapazes, Naomi Scott desponta como a melhor dos três no canto, e sua Jasmine é favorecida com as mencionadas atualizações do roteiro nesta adaptação.
Vale ressaltar, ainda destacando as atuações, que você não paga o cachê integral de um astro como Will Smith para lhe dar pouco destaque, então faz sentido que ele tenha bastante atenção nesta produção. O resultado é satisfatório no geral, pois o ator aparenta estar à vontade em suas cenas, podendo ter um julgamento negativo por questões que estão além dele (mais uma vez, o roteiro).
Só para não deixar de mencionar, o Jafar dessa adaptação não apresenta mudanças em relação ao material original, impedindo Marwan Kenzari de ter algum brilho maior como vilão. Cabe ao espectador decidir se prefere o idoso asqueroso de 1992 ou o jovem de 2019.
A direção de Guy Ritchie, como não poderia ser diferente, mostra algumas assinaturas do diretor como agilidade na condução da história, principalmente em seu início, sintetizando o máximo possível para posicionar seus personagens no tabuleiro da trama (é aqui onde podemos ver os melhores atributos do diretor sendo usados). É no segundo ato que essa fórmula não consegue mascarar os pontos baixos da história, que passa a lançar mão de romances bobos e clichês vilanescos. As cenas de ação não são memoráveis, mas pelo menos não abusam do slow motion, tendo como ponto alto os efeitos visuais, que passam ar de genéricos em apenas um ou outro momento.
De um modo geral, Aladdin honra o desenho de 1992 com uma adaptação divertida, colorida e valorosa, mas que não apresenta nenhuma grande novidade por parte de Guy Ritchie num claro trabalho sob encomenda. Isso é o que impede ainda mais elogios para o trio protagonista, muito amarrado em formados já criados. Dentro da narrativa, fica espaço para mais histórias, e confesso que não acharia ruim ver mais dessa turma cantando e dançando por aí.