Assim como fiz no texto sobre o primeiro longa, preciso começar esse falando de todo o charme que cerca os filmes trash, especialmente os voltados para o terror. O cenário fica ainda melhor quando essas produções são livres de amarras, dando aos seus idealizadores total liberdade de extrapolar as barreiras do que é normal. A Babá: Rainha da Morte se beneficia desse passe livre, um presente da Netflix para o diretor McG. Porém, como tudo na vida, isso tem seus bônus e seus ônus.
Passados dois anos dos eventos do longa anterior, Cole (Judah Lewis) ainda é assombrado por toda a loucura daquela noite. Com todos que o cercam duvidando de seu relato, ele encontra na melhor amiga Melanie (Emily Alyn Lind) um porto seguro para não surtar de vez. É interessante que Rainha da Morte aposte nessa quebra de expectativa em relação ao protagonista, abandonando uma suposta narrativa de amadurecimento e investindo nos esteriótipos adolescentes. Ideias que acabam funcionando bem melhor para o que a trama se propõe nessa continuação.
A Babá: Rainha da Morte realmente acredita no antigo lema das continuações: mais é melhor. Entretanto, a direção sabe bem como pegar esse excesso e trabalhá-lo de maneira orgânica, sem parecer um resgate de elementos antigos numa escala ainda maior. E sim, existe uma repetição de situações e piadas internas, incorporadas perfeitamente pelo elenco. Mas tudo servindo ao desenvolvimento da lógica narrativa desse universo que se estabelece. É um filme que sabe muito bem rir de si mesmo, inclusive das falhas que são herdadas do longa anterior.
Assim como seu antecessor, Rainha da Morte também equilibra com eficiência a mistura de gêneros entre terror e comédia, o famoso “terrir“. Existe a urgência e os perigos do slasher, colocando o protagonista sempre em situações enervantes assim que a trama vira a chave. Contudo, o espirito do nonsense está constantemente presente, garantindo dessa forma a diversão característica dessa franquia. É fato que o tom mais contido do primeiro filme garante uma melhor assimilação dessa premissa. Mas abrir mão disso para arrancar risadas do espectador não parece um pecado tão grande no fim das contas.
O elenco, que agora conta com antigos e novos rostos, está bem dentro do que é necessário para o longa. Embora o principal problema do filme esteja justamente nesse núcleo. Nesse caso, a ausência de Bee (Samara Weaving) durante boa parte do tempo. É clara a ideia de brincar com a expectativa de seu aparecimento, mas foi justamente a desenvoltura de Weaving que deu o tom da história. E mesmo que seja divertido ver Robbie Amell bancando o psicótico, falta uma figura realmente cativante em tela.
McG adora trabalhar referências dentro de seus filmes – seja dos próprios trabalhos ou de outros produtos da cultura pop – e aqui não é diferente. Isso cria sacadas realmente engraçadas e outras que não combinam tanto com a proposta. Em termos gerais, A Babá: Rainha da Morte está um pouco acima de seu antecessor, dando um passo importante para a ampliação desse inusitado universo cinematográfico. E por mais que seja difícil admitir, uma galhofa é sempre legal de assistir.