Apesar de roteiro insosso, Ghost in the Shell oferece uma incrível experiência cyberpunk no cinema
Poucos levavam fé que uma adaptação de Ghost in the Shell poderia de fato acontecer quando surgiu a notícia há alguns anos. O tempo não apenas tratou de mudar esse pensamento como acrescentou que a adaptação estava seguindo, com elogiável fidelidade, os conceitos estéticos e sociais do mangá criado por Masamune Shirow no final da década de 1980, onde viria a ganhar ainda mais popularidade com a animação de mesmo nome lançada em 1995. Para quem não sabe, Ghost in the Shell tem diversas influências cyberpunk e por sua vez influenciou grandes clássicos como um tal de Matrix.
No futuro de 2029, a trama de Ghost in the Shell acompanha Major (Scarlett Johansson), a primeira de sua espécie que, após sofrer grave dano ao seu corpo num suposto ataque terrorista, tem seu cérebro transferido para um corpo sintético sob os cuidados da empresa Hanka Robotic. Um ano se passa e ela está a serviço da Seção 9 combatendo cybercriminosos e hackers. Mas agora ela precisará enfrentar um novo inimigo ainda mais mortal, rápido e inteligente que não vai parar até conseguir sabotar toda a tecnologia de inteligência artificial da empresa.
É difícil encontrar nos últimos anos um filme tão bem ambientado quanto A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell. Cada elemento na tela possui vida própria, como um autêntico representante cyberpunk, onde podemos identificar e relembrar por diversas vezes Blade Runner ali. As propagandas holográficas, figurino, montagem e o equilíbrio ao mostrar o que é rico e o que é decadente nessa sociedade reforçam essa ideia.
Nem tudo são flores, e o roteiro de Jamie Moss e William Wheeler infelizmente deixa a desejar na construção dos pontos-chave na trama do filme. Esse problema passa pelo obscuro Kuze (Michael Pitt) que não consegue se estabelecer na trama, e até mesmo com Major em alguns momentos. A discussão a respeito dos limites entre a alma humana e virtual através principalmente dos implantes cerebrais se dá de modo expositivo e pontual, mas nada que não esteja sendo discutido até de forma banal em nosso cotidiano. Talvez esse filme há uma década atrás causaria maior impacto em relação ao conceito.
São problemas em momento algum atribuíveis aos atores, que se encaixaram muito bem em seus papéis como Batou (Pilou Asbæk), que ganha uma vertente a mais em relação à animação aqui. Aramaki (Takeshi Kitano) possui destaque proporcional aqui com direito a momentos badass, mas ninguém se compara à protagonista. Scarlett carrega muito bem o filme e está muito além de qualquer acusação de whitewashing sofrida pela produção, que respeita o material original mas não se limita a ele.
No mais, vale destacar as lindas homenagens já citadas anteriormente a respeito dos ângulos idênticos que Ghost in the Shell usa em relação ao filme animado de 1995, trazendo alegria a quem curte uma homenagem leve. Resta agora torcer pelo sucesso do filme nas bilheterias, para que possamos revisitar esse futuro lindo e complexo idealizado por Masamune em 1989.