Bruxa de Blair: assustadoramente desnecessário

A Bruxa de Blair é um clássico do terror. Não apenas pela qualidade do filme em si, mas por todas as nuances que o cercam. Na época do lançamento, lá em 1999, nasceu um fenômeno de marketing que entraria para a história do cinema. Vale lembrar que a internet ainda dava seus primeiros passos, o que facilitou bastante o trabalho dos diretores na hora de vender que tudo aquilo era real. Então criou-se todo um frenesi por conta desse filme. Sites, fóruns, boatos, boca a boca, documentários e todas as formas possíveis de espalhar uma história foram utilizadas.

Como se já não tivesse qualidades suficientes, A Bruxa de Blair foi responsável direto pelo nascimento de um gênero, que tempos depois, seria utilizado até ninguém aguentar mais em Hollywood: o found footage. Caso você ainda não saiba, trata-se daquela história de gravações encontradas que contém cenas de dor e sofrimento. Certamente você já deve ter assistido algum exemplar do segmento, como Atividade Paranormal.

Acontece que é muito difícil encontrar produções de qualidade dentro do found footage. A maioria não consegue utilizar de forma a decente a fórmula, o que acaba gerando uma bolha de lixo nos cinemas. Pior, o público vai ficando cada vez mais de saco cheio com tantas tentativas mal-sucedidas. Então, ignorando todos os sinais, eis que chega aos cinemas Bruxa de Blair; continuação direta do filme de 99 e que ignora completamente o terrível Livro das Sombras.

Na trama, James (James Allen McCune), o irmão da Heather (uma das protagonistas do primeiro filme e responsável por uma das cenas mais clássicas dos filmes de terror) é a figura central de um novo documentário, produzido pela estudante de cinema Lisa (Callie Hernandez). Eles e mais dois amigos, Peter (Brandon Scott) e Ashley (Corbin Reid), retornam a floresta Black Hills, em Burkittsville, ex-Blair, em busca do paradeiro da irmã de James, após descobrirem um vídeo no YouTube com uma suposta gravação encontrada na região que pode ajudá-los a solucionar o caso, já que a polícia abandonou a investigação.

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O principal problema de Bruxa de Blair é que ele perde tempo tentando copiar o filme original e não mostra em nenhum momento algum motivo plausível para existir. E o pior de tudo, não consegue nem mesmo repetir o clima de terror psicológico do seu antecessor. Um dos méritos do filme de 1999 é justamente esconder a figura da tal bruxa o tempo todo. Um jogo mental que prende o espectador o tempo todo. Uma abordagem bastante ousada para época, que é totalmente descartada aqui.

O novo filme tem mais em comum com o terror pipoca de hoje em dia, inclusive na necessidade de dar um rosto para o mal. Tem lá a infame Bruxa de Blair, num CGI extremamente preguiçoso e que não contribui em nada para o resultado final. Sério, o resultado seria exatamente o mesmo se ela não desse o ar da graça. Além é claro dos populares jumpscares, como pessoas surgindo do nada, rádios que tocam nos momentos críticos e por aí vai. Tudo para cumprir a cota dos sustos.

De inovador mesmo, apenas a tecnologia utilizada pelos personagens. Saem as poucas câmeras do original e entram drones, walkie talkies com GPS e câmeras auriculares. Para não ser o chato da parada, a visão em primeira pessoa garante alguns momentos interessantes. Na sequência final, parece que estamos diante de um game de sobrevivência. Aliás, os últimos 15 minutos do filme causam uma certa agonia, algo que não ocorre em nenhum outro momento.

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O curioso é que Bruxa de Blair é dirigido e roteirizado por Adam Wingard, um nome forte no atual cenário do terror. Um dos criadores do movimento mumblegore, ele já comandou filmes como Você é o Próximo e os ótimos V/H/S e ABC da Morte. É o talento do cara que garante os raros bons momentos do filme. Mas apesar de todas as entrevistas onde afirma ser um grande fã do original e de como foi divertido filmar essa sequência, o resultado acaba ficando muito abaixo do esperado.

Outro fato curioso: o título original do filme foi mantido em segredo ao longo de três anos, sendo vendido como The Woods. A grande revelação foi feita em julho, durante a San Diego Comic-Con. Acontece que Bruxa de Blair acaba sendo tão descartável, que talvez fosse melhor ter mantido esse segredo guardado para sempre.