“Eu mato com meu coração”
Por Lucas Muniz
Dirigido por Nikolaj Arcel, “A Torre Negra” é a adaptação da obra literária homônima de Stephen King. Roland Deschain (Idris Elba) é um membro de uma antiga linhagem que pertencia a um grupo chamado de “Pistoleiros“, que possuem como dever proteger uma torre mágica que está prestes a ser destruída pelo maligno feiticeiro Walter O’dim (Matthew McConaughey).
Jake Chambers (Tom Taylor) é um garoto que está tendo constantes pesadelos com um mundo mágico onde coisas ruins estão acontecendo e que estão refletindo no plano real, e ele acredita que tudo isso está interligado de alguma forma. A partir desse momento, a trama leva a crer e constrói o terreno para uma narrativa bastante oitentista, onde o garoto jovem é escolhido para uma aventura mágica e que ninguém confia em suas palavras mas mesmo assim ele não desiste, flertando com grandes clássicos fantásticos, como “A História Sem Fim“.
Narrativas, como a exemplificada acima, funcionam por diversos motivos, e um dos principais que podem ser destacados, são: Regras de seus universos bem definidas, como a mágica funciona, relações interpessoais bem estabelecidas e relações emocionais com os personagens no que diz respeito a personagem e espectador. E é aí onde reside grande parte dos pecados de “A Torre Negra“. Começamos com uma introdução bem curiosa e que prende, mas isso não se sustenta depois que começam a surgir diversas dúvidas e não no sentido positivo da coisa, mas que deixam o entendimento de acontecimentos na área da confusão, dificultando o engajamento e alimentando descrença no que está acontecendo em tela.
Além do “Mundo-chave“, como eles se referem a Terra, existe magia e ela as vezes é discreta e outras horas ela é altamente sem pudor. Walter é um feiticeiro bastante poderoso, isso fica claro em cinco minutos de filme, mas os níveis de seu poder não abrem brecha para saber até onde ele pode realizar certos feitos, o que ele não pode fazer e isso acaba o tornando um vilão com características quase que onipotentes, pelo menos aparentemente. O mesmo ocorre com Roland, é certo que ele também faz uso de poderes sobrenaturais, de forma mais discreta, mas mesmo assim, sofre do mesmo, não dá para saber o que ele pode ou não pode realizar, tornando o protagonista um pouco volátil e numa corda bamba de poderes.
As relações interpessoais de A Torre Negra, quando não são extremamente superficiais, são deveras rápidas e sem desenvolver qualquer tipo de empatia, decorrendo assim, numa falta de peso emocional quando se trata de gente correndo perigo ou quando algum personagem morre. Não há tempo para o luto, cortou a cena, tudo já está tranquilo, como se nada tivesse acontecido, guiando a trama para outro problema, não há uma decisão certa de tom que a história quer tomar, uma hora parece querer seguir no rumo de aventuras fantásticas dos anos oitenta, em outro momento quer tomar um ar mais sério, talvez essa tentativa de voltar pro mais profundo seja pelo fato de ser uma obra de um renomado escritor, difícil dizer.
O roteiro não chama atenção em nada, mais do mesmo. Jornada do herói. Porém, existem clichês e CLICHÊS. O comum bem trabalhado geram obras excelentes. O diretor junto dos roteiristas não tiveram muito esmero em trabalhar os aspectos que compunham a obra, acaba que tudo fica muito jogado e extremamente raso e linear, sem nenhuma virada interessante e não promete nada mais do que o óbvio.
A torre, que supostamente é o principal elemento mágico dentro da obra, beirando talvez até na estrutura de “mcguffin“, não desenvolve papel algum de relevância a não ser pra ressaltar o fato de que se ela for destruída, as trevas e o mal irão prevalecer, e se ela realmente for, ninguém se importa, dá um momento no longa em que se esquece que existe uma torre mágica.
Idris Elba, de certa forma, cumpre seu papel com competência e com o pouco que lhe foi dado. Ele convence como um homem desacreditado, embora ainda esteja lutando pela causa, uma dicotomia que poderia ter levado a caminhos mais interessantes. Quanto a Matthew, ele está só batendo seu ponto. Não há nada para destacar aqui a não ser uma atuação plástica e um personagem extremamente canastrão, limitado a frases de efeito e aparições inusitadas. Tom Taylor parece ser o que mais se diverte fazendo seu trabalho, talvez, seja o fator juventude e estar junto de um set de filmagens com dois grandes e renomados atores, dê energias positivas e ânimo.
Os universos paralelos em “A Torre Negra” não possuem uma distinção muito definida, parece mais que os habitantes estão só numa parte longínqua da Terra e nada mais que isso. Não há uma mudança de figurino ou qualquer elemento mais específico que situe e mostre que ali é outro local, com exceção de uma locação, que seria o covil do mal de Walter e dos seus capangas, fora isso, nada mais. Ainda nos seus capangas, que são chamados de “Duas Peles“, não possuem uma maquiagem que torne as criaturas chamativas ou um pouco memoráveis.
Há um elemento emocional relacionado ao personagem Jake, que é a morte de seu pai, a priori na trama, não havia uma ligação direta, mas quando chegamos no fim do segundo ato, há uma cena de treino com Roland, onde ele ensina a Jake, O Credo dos Pistoleiros, e isso faz uma ligação direta e discreta com a perca de seu pai, deixando claro no desenrolar dos fatos, que ele se tornará um dos membros da quase extinta equipe.
O clímax do filme vem de uma forma totalmente inesperada, estávamos em um ponto A e de repente, estamos em um ponto B e aquilo já é a conclusão de tudo. Um terceiro ato deveras apressado e muito curto. É como se tivesse acabado as ideias na writters room e encerraram de qualquer forma. Planos horríveis, câmeras lentas em momentos muito desfavoráveis. Porém, há um certo bom uso do cenário em combate por Roland, mas é muito pouco para salvas as sequências de ação.
A fotografia faz um trabalho interessante em alguns momentos, optando por planos abertos e panorâmicas bem bonitas, fazendo isso para situar onde os personagens estão e como é o local onde está se passando determinada cena, porém, o longa não possui uma paleta de cor que deixe a estética mais chamativa, nenhum plano que favoreça aquela ou essa cena, ainda mais do mesmo.
“A Torre Negra” possui um elenco muito bom, mas não o aproveita e faz muito mal uso de seu universo e daquilo que o compõe.