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Crítica | Os Incríveis 2: um passo atrás para seguir em frente

Continuação do sucesso da Pixar em 2004, Os Incríveis 2 traz evoluções naturais para rostos carismáticos num roteiro pouco apressado, mas muito divertido

Uma das particularidades nas novas gerações (das quais me excluo por motivos etários mas tento estar alinhado no pensamento) é a capacidade de, cada vez mais, questionar tudo à sua volta. Quando Francis Ford Coppola lançou O Poderoso Chefão 2 (a primeira continuação de Hollywood), não havia internet para milhões bradarem que aquele filme não era necessário. Pois bem, estamos em 2018 e a continuação da vez é Os Incríveis 2, dirigido novamente por Brad Bird, dando sequência a uma das melhores animações da Pixar, de 2004. A grande questão sobre o filme é, antes de qualquer coisa, se ele realmente era necessário.

Bird se esforçou bastante para que a resposta seja “sim”.

A trama continua de onde Os Incríveis parou, quando o Escavador vem à superfície para confrontar os heróis. As coisas acabam não saindo como o esperado, forçando a família Pêra (e todos os super-heróis) a se refugiarem novamente. Para reverter esse cenário, um grande entusiasta dos heróis e rico empresário surge, a fim de contratar a Mulher-Elástica para que, conforme for praticando atos de heroísmo, a opinião pública force a legalização dos super-seres.

Vale destacar a narrativa criada para o filme, que usa o gancho do primeiro de modo contido. Quando finalmente pensamos que teríamos a família toda agindo em conjunto contra a vilania, Bird dá um passo para atrás e relembra o quanto eles ainda precisam aprender, seja nos dramas adolescentes de Violeta, que passa pela necessidade de compreender suas responsabilidades, até o Senhor Incrível, agora na condição de “dono do lar”.

Nesse sentido, o enredo se programa para, no desfecho, nos deixar novamente com aquela sensação de “agora vai” em relação ao trabalho em equipe da família Pêra. É nesse ponto que o texto corre o risco de soar cansativo em alguns momentos, pois há uma repetição de elementos do primeiro filme em tela: vilão fácil de decifrar, um dos personagens principais trabalhando sozinho e relembrando os tempos de ouro, além de todos os conflitos domésticos que uma família (com ou sem super-poderes) pode ter.

É aproveitada a chance de trazer um discurso ainda mais empoderador para as mulheres, algo que poderia servir de resposta para o mal-estar causado por John Lasseter na Pixar há algum tempo. Helena, a Mulher-Elástica, continua muito bem escrita e apresentada, o que é muito legal quando falamos de representatividade. Intencional ou não, a resposta foi dada de alguma forma.

A trilha sonora de Michael Giacchino continua cativante, mas meus ouvidos não captaram nada que mereça elogios além de competente e respeitoso com o longa original, também de sua autoria. Alguns outros aspectos técnicos conseguiram um upgrade natural (afinal, 2004 foi há 14 anos), como grande melhoria nos traços dos personagens, dessa vez muito mais expressivos, ao mesmo tempo em que se mantém o padrão estético estabelecido em 2004. As cenas de ação, bem pontuadas, também conseguem acompanhar as evoluções tecnológicas, onde cada superpoder é bem aproveitado mais uma vez.

A dublagem nacional continua com a mesma qualidade vista nas animações da Disney de um modo geral. A principal novidade nesse departamento fica por conta da inclusão de Otaviano Costa e Flávia Alessandra. Costa está muito bem dando voz a Winston, enquanto Flávia não conseguiu imprimir 100% do seu talento como atriz na dublagem de Evelyn, mas consegue segurar bem as situações.

No final, fica nítido o limite narrativo alcançado em Os Incríveis 2, que consegue entreter como poucos apesar de tudo. Seguir adiante com esses personagens carismáticos é possível, mas não nas mãos de Brad Bird.

Mas não encare os pontos questionáveis como um impeditivo para assistir o longa no cinema, muito pelo contrário. O filme bate de frente com qualquer outro do gênero super-herói, oferecendo todos os atrativos para uma boa sessão de forma dosada. Zezé rouba a cena quando tratamos de comédia, o Gelado continua sendo um ótimo coadjuvante e é uma delícia rever esses rostos melhorados depois de tanto tempo. Ótima sessão para qualquer hipótese.