A Babá (Netflix) | Crítica

Existe todo um charme que cerca o cinema trash, especialmente quando é voltado para o terror. O baixo custo e o desprendimento de qualquer excelência técnica geralmente criam exemplares pra lá de divertidos. Essa mistura, costumeiramente chamada de terrir, é sempre eficiente na arte de brincar com os clichês do gênero. A Babá, novo filme original da Netflix, é uma espécie de exemplar desse conceito. A maçã que caiu longe da árvore, mas que ainda carrega seus genes. Para o bem e para o mal.

Na trama, acompanhamos a rotina de Cole (Judah Lewis), um típico perdedor que já vimos em várias outras produções. Com medo de tudo e perseguido na escola, seus momentos de alegria se resumem ao contato com sua babá Bee (Samara Weaving). Quando seus pais viajam, Cole é encorajado por sua melhor amiga Melanie (Emily Alyn Lind) a ficar acordado e descobrir o que Bee apronta durante a noite. É aí que ele tromba com o culto satânico encabeçado pela moça e precisa lutar para sobreviver.

Originalidade realmente não é o forte de A Babá, muito pelo contrário. Porém, estamos diante de um filme bastante consciente de suas limitações e dos clichês que cercam o gênero onde está inserido. Isso cria uma liberdade para explorar e extrapolar alguns limites. O humor negro é bastante utilizado, ainda que não seja eficiente durante todo o tempo. Os personagens estereotipados entretém, mesmo que sejam descartados rapidamente pela curta duração da obra. E as doses de gore são inseridas em momentos oportunos, evitando assim a fadiga.

A direção de McG é funcional para o que o longa se propõe a passar. Estamos falando de alguém que tem As Panteras, Somos Marshall e Exterminador do Futuro: A Salvação entre seus trabalhos. Inconstância é a palavra. Mas é sua experiência com videoclipes que impera em A Babá. Ele sabe como criar cenas dinâmicas, além de algumas sacadas visuais criativas. Pegue algumas passagens específicas, coloque a música certa e terá o clipe de alguma banda indie de sucesso da última semana. Mas não vai além disso. O roteiro também não ajuda. Sim, estamos falando de uma peça de humor negro trash, mas algumas incongruências não passam despercebidas. Um pouco de verossimilhança não faz mal para ninguém.

O elenco, por sua vez, parece se divertir com tudo isso. A química entre Cole e Bee é bem construída, já que o filme reserva um tempo para explorá-la. Judah Lewis é um ator promissor, que convence na transição de garoto assustado para um jovem maduro. Já Samara Weaving faz bem o papel de garota descolada com uma pegada de femme fatale. Robbie Amell, o Nuclear de Arrow, é o perfeito esportista burro. E é sempre bom ver a prolífica Bella Thorne em ação, mesmo por pouco tempo.

A Babá é engraçado em alguns momentos e bizarro no resto do tempo. E não parece nem um pouco preocupado em mascarar suas falhas. Passa longe da lista de melhores filmes da Netflix, mas não é uma completa perda de tempo. Sejamos honestos, a gigante do streaming já fez coisa muito pior.