A Guerra dos Sexos | Crítica

Apesar do tema espinhoso, A Guerra dos Sexos conduz seus conflitos de forma cautelosa

Por Vi Marchetti

A Guerra dos Sexos é um filme sobre um tema bastante espinhoso, mas que o leva de forma muito cautelosa. Talvez por um reflexo dos tempos, o filme tenta abordar a narrativa de forma suave, apresentando os dois lados sem vitimizar ou demonizar ninguém. Para pessoas mais moderadas, isso pode ser um acerto por parte dos diretores, para quem gostaria de ver mais força empregada na temática do feminismo e principalmente do LGBTQ, o filme pode deixar algo a desejar.

Mas vamos ao panorama geral. A Guerra dos Sexos conta a história de uma partida de tênis que aconteceu em 1973, que levou o mesmo nome, e todos os eventos que culminaram alí. Porém, é sobre muito mais que apenas o esporte, é sobre dois lados de uma narrativa protagonizada pela campeã mundial feminina Billie Jean King (Emma Stone) e pelo ex-campeão masculino Bobby Riggs (Steve Carrell), que acaba sendo um embate sobre o tratamento igualitário no tênis feminino e masculino.

O filme foca bastante na vida pessoal de cada personagem, construindo a personalidade e motivação de cada um para que possamos entender exatamente o peso e a importância da partida de tênis entre os dois no final. Esse foi o ponto de interesse para os diretores do filme Jonathan Dayton e Valerie Faris (Pequena Miss Sunshine).

De um lado, Billie Jean era casada, mas, durante o decorrer do filme, ela se vê também em confronto com sua própria sexualidade quando começa a se relacionar com Marilyn Barnett (Andrea Riseborough). Apesar de presente e tendo bastante importância para a história, esta questão pareceu ficar secundária à causa feminista. A grande luta de Billie Jean era poder conquistar tratamento igualitário para o tênis feminino, que chegou a ter o prêmio para a campeã do torneio oito vezes menor que o campeão masculino. Os contrapontos dos personagens em discordância (não necessariamente do sexo masculino) é algo que escutamos até hoje. Frases como “Os homens que chamam a multidão” ou “O esporte masculino é simplesmente mais divertido de assistir” e “As mulheres não conseguem agir sobre pressão tão bem quanto os homens” são argumentos que ainda escutamos em 2017, mas que o filme deixa à cargo do expectador formar sua opinião.

Com Bobby Riggs, o filme deixa claro que ele tem dois lados. Um lado showman, um personagem que ele mesmo intitulava “o porco chauvinista”, e o lado pessoal. Bobby lutava para conciliar essa persona, seus hábitos de apostas e esquemas, e seu casamento que não ia bem. Ele fala coisas absurdas quando na frente das câmeras, mas Steve Carrell vende o personagem talvez até bem demais onde, para o bem ou para o mal, não dá para ficar zangado com ele. Para Bobby, a épica partida de tênis é encarada muito mais como uma maneira de voltar à relevância e ganhar dinheiro, com a questão da igualdade do esporte feminino se mostrando extremamente secundária.

Da parte técnica, a fotografia de A Guerra dos Sexos é bonita e eficiente. Apresenta momentos geométricos interessantes, momentos de ângulos super abertos para mostrar um personagem perdido em pensamento. Na apresentação da família de Bobby Riggs, uma câmera estática nos mostra o tédio da mesa de jantar, em contraponto com um Bobby brincalhão com seu filho na sala de estar e um jogo de câmeras completamente diferente. As atuações também estão muito boas. Basta ver os clipes dos verdadeiros Billy Jean e Bobby Riggs.

No geral, A Guerra dos Sexos é um filme bem executado onde podemos acompanhar bem a história, mas que pode deixar alguns pontos a desejar. A narrativa apresenta alguns fios que acabam não dando em lugar nenhum como na rival de Billie Jean, Margaret Court, que parecia por algum momento ser um ponto de ameaça para a personagem mas isso não se concretiza. Também pode deixar a desejar pela falta de força no debate, principalmente considerando que o debate na época desse acontecimento era extremamente inflamado. Mas, pensando em 2017, em tempos de intolerância exacerbada, talvez essa seja a melhor maneira de levar uma mensagem.